PEÇA TEATRAL COREOGRAFADA E MUSICADA ESCRITA EM 2010
(TEXTO DE ASSENÇÃO PESSOA)
A
lenda da Serpente
EM HOMENAGEM AOS 150 ANOS DE ELEVAÇÃO À CATEGORIA DE CIDADE: ITAPECURU MIRIM
SINOPSE: Peça teatral baseada
na lenda da Serpente de Itapecuru Mirim. Textos e Poesias de Assenção Pessoa. A
peça trata-se da estória de uma mulher que ao dar a luz a uma criança, jogou-a
no Rio Itapecuru e a criança se encantou, transformando-se numa figura
diabólica: uma enorme serpente. O contexto temporal é baseado nas estórias que
seus avós contavam e retrata os tempos do vilarejo chamado Arraial, depois, Feira,
por volta de 1801, hoje a bela cidade de Itapecuru Mirim.
OS PERSONAGENS SÃO
FICTÍCIOS, APENAS PARA DAR VIDA E FORMA À LENDA QUE TAMBÉM EM PARTE É FICTÍCIA.
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A Serpente de Itapecuru
1º ATO:
CENÁRIO
PRINCIPAL:
Paisagem ao fundo: FLORESTA E RIO. CAMINHO DE PEDRAS E UMA ÁRVORE. EM BAIXO DA
ÁRVORE UMA PEDRA (COM PORÇÃO DE AREIA) PARA QUE O CASAL VIVA SEUS SONHOS
SENTADOS OU DEITADOS.
NARRADOR
NÃO APARECE NAS CENAS. APENAS EMPRESTA SUA VOZ, COM ENTONAÇÃO, EMOÇÃO E PERSUASÃO.
SONS
DE ÁGUA CORRENDO, QUEBRANDO COLINAS. VENTOS SUAVES.
NARRADOR:
─
Era nos tempos da formação da Vila chamada Feira. Duas famílias: uma: dona de
um engenho, descendentes de luso-açorianos portugueses. Outra: gente simples
descendentes da mistura de índios com brancos portugueses. Trabalhavam na
lavoura. Ambas as famílias eram fervorosamente católicos.
─
Era uma linda tarde de outono. O sol ainda brilhava no horizonte. Um casal
apaixonados estavam ali a admirar as águas do rio a passar.
Ouvia-se
quebrando o silêncio daquelas águas turvas a deslizar em seu leito, o canto dos
pássaros e o vento nas folhagens, com que por encanto provocava seu canto
naquelas paragens.
LUÍS
– Minha amada, no que estás a pensar? Vejo-te tão linda! Parece uma miragem
refletida nestas águas.
POTYRA
– Oh, Meu querido! Estou a pensar: como vamos falar de nós dois para nossos
pais? Não podemos continuar a nos encontrar assim, sempre às escondidas.
LUÍS
– Concordo. Mas agora só me abrace e deixe que nossos corpos se amem apenas com
o canto dos pássaros como testemunha do nosso amor.
NARRADOR
- E os dois se amaram ali mesmo na relva, no leito do rio. E a cada dia, os
encontros eram mais constantes, fervorosos e apaixonantes.
CENÁRIO
PRINCIPAL
LUÍS
RECITA O POEMA “ETERNO ENQUANTO DURE”
NARRADOR:
─
Passaram-se alguns dias. A caminho do rio uma parada em meio à bela paisagem
debaixo de uma grande árvore, Luís faz a Potyra uma linda declaração de amor em
forma de poesia:
LUÍS
– (pegando a mão de Potyra e acenando):
─
Minha doce Potyra! Fiz este poema para ti. Ouça:
Entre as nuances de uma nota
Regida com maestria
De um grande amor consentido
Regado a um belo concerto
Numa suprema sinfonia
Num bailado ousado, atrevido.
E neste balet natural
Passos calientes, desejo fatal.
Energia que se move...
Entre dois corpos,
Que se amam...
Contentes.
E, depois do amor...
Nenhum desejo contido
Nenhuma palavra esquecida
Nalgum olhar penetrante
Na essência de um corpo excitante,
Nenhum gemido de dor.
E, depois
Do desejo extasiado
As juras e as promessas
De amor eterno ficam no passado
Para os dois:
Na valsa do bem-me-quer
─ O que é para sempre
Nem sempre é.
LUÍS
– Esse amor de que falo, é o meu grande amor que sinto por ti. Ficaste triste?
Pensei em alegrar-te, no entanto, vejo tristeza em teu olhar...
POTYRA
- Por que falas do que é para sempre, nem sempre é? O que está querendo me
dizer por trás destes versos?
LUÍS
– Potyra, não podemos mais nos encontrar. Meus pais vão me mandar para
Portugal. Embarco daqui a 15 dias no
porto em São Luís.
3º ATO:
Narrativa entre os pais de
Luís
CENÁRIO: SALA DE ESTAR DE
UMA CASA DE CLASSE MÉDIA. (CANTO ESQUERDO DO PALCO)
(duas
poltronas e uma mesinha entre as poltronas, um tapete – móveis antigos).
LÚCIA – Meu Senhor, não
podemos consentir este relacionamento de nosso filho com aquela camponesa.
Vamos antecipar sua ida para São Luís, assim evitaremos o pior.
PEDRO – Concordo com a
Senhora. Nosso filho está muito estranho. Tenho medo que ela possa fugir para
ir ter com esta moça.
NARRADOR:
─ Luís teve que abrir mão
desse amor, por que, como era de família abastarda, seus pais não aceitaram
aquela união.
4º ATO:
Narrativa
entre os pais de Potyra.
CENÁRIO: DUAS CADEIRAS SIMPLES DE MADEIRA (móveis
antigos) – CANTO DIREITO DO PALCO
POTY
– Marido? O que vai ser de nossa filha? Parece que vai morrer de tristeza! E
nós o que vai ser de nossas vidas? As pessoas vão nos apontar na vila toda.
JOÃO
– Mulher! Não vou conseguir sair mais de casa! Nossa filha jogou nossa
dignidade na lama.
NARRADOR
─
POTIRA DESCOBRIU QUE ESTAVA GRÁVIDA. AINDA TENTOU FALAR COM SEU AMADO LUÍS, MAS
A FAMÍLIA DO RAPAZ JÁ O TINHA MANDADO PARA A CAPITAL E DE LÁ PARA PORTUGAL.
POTIRA
- Meu Deus! Como vou falar para meus pais? E agora? O que vai ser da minha
vida?
POTY
- Potyra por que está tão triste?
JOÃO
– Fale minha filha? Vou acabar com a vida daquele almofadinha!...
POTIRA
- Não vai adiantar meu pai. Luís já foi embora. Mãe, estou esperando um filho.
NARRADOR
─ Então a jovem, sendo obrigada a esconder sua
gravidez de todos foi com seus pais morar na beira do rio Itapecuru. Seus PAIS
morrera de tanto desgosto, ficando a jovem sozinha no mundo.
5º ATO:
SONS:
CHORO DE CRIANÇA
CENÁRIO
SECUNDÁRIO: BERÇO COM CRIANÇA
NARRADOR
─ Assim que a criança nasceu, a jovem pensou
em dá-la para uma família, mas se arrependeu. Toda vez que a criança ia dormir,
chorava muito com vontade mamar, mas a jovem nunca se levantara à noite para
alimentar a criança. Um dia, não pensou duas vezes, e resolveu jogar a criança
nas águas do rio Itapecuru sem que ninguém soubesse. Com medo que a criança
morresse então a colocou dentro de uma caixa de madeira que flutuava e
colocou-a no leito do rio.
POTIRA
– CRIANÇA CHATA. PARE DE CHORAR.
─
NÃO AGUENTO MAIS. PERDI TUDO. O AMOR DA MINHA VIDA. MEUS PAIS. DESTINO CRUEL.
SAUDADES DOS SONHOS PERDIDOS, AMORES VIVIDOS... OH, LUÍS! POR QUE ME
ABANDONASTES? ONDE ESTÁS? TUAS JURAS DE AMOR, ONDE FICARAM? PERDIDAS NA NOSSA
ÁRVORE NA BEIRA DO RIO. RIO DE ÁGUAS TURVAS QUE CORRE LADEIRA ABAIXO... LEVOU O
MEU AMOR...
POTYRA
─ LEVOU O MEU AMOR... VAI LEVAR TAMBÉM ESSA CRIANÇA.
6º ATO:
CENÁRIO
PRINCIPAL
SERPENTE
NARRADOR
- Como castigo a criança não morreu, pelo contrário, ela se encantou,
transformou-se numa forma diabólica, ou seja, numa enorme serpente de sete
cabeças. Seu tamanho era tão grande, que media mais de 500 metros de
comprimento. Sua peçonha podia matar apenas com uma injetada de sua toxina.
Todos os animais primitivos que habitavam nessa região foram devorados pela
serpente por sua enorme fome devastadora. Como seu corpo era muito grande,
parte dele se perdia na vegetação nativa da região, a ponta da sua calda, a
parte mais frágil misturava-se por entre as matas estendendo-se até o rio.
7º ATO:
CENÁRIO
SECUNDÁRIO: UMA CRUZ DE MADEIRA
Quando
o padre foi celebrar a 1ª missa na vila, ainda ao ar livre, onde hoje é a Praça
da Cruz, e lá reuniu todos os moradores o padre avisa que ao final da
celebração entraria uma criatura, mas que não queria o mal das pessoas. Que
ninguém se assustasse, pois esta criatura só queria encontrar sua mãe.
Quando
a serpente entrou todos ficaram apavorados ao ver aquela figura diabólica. Ao
entrar, começou cheira os pés de todas as mulheres, até encontrar sua mãe.
Potira
estava tanto medo, pois ali ninguém sabia de sua triste história e nem de sua
gravidez. Mas, que a serpente não a
encontrou, pois a mulher fugiu dali e nunca mais se soube notícias dela. Todos
ficaram abalados com o que viram e foram para suas casas com muito medo.
NARRADOR
– Tarde festiva na Vila. 1ª missa. Todos da Comunidade se juntaram arrumara o
altar. Ergueram uma Cruz e a chamaram de Praça da Cruz. Era raro o
acontecimento. Nos dias de grande alegria, as pessoas se arrumavam com sua
melhor vestimenta, cantavam e dançavam. Era a celebração da boa colheita. E
também a celebração da construção da capela, por invocação de N.S. das Dores.
─
No início do sermão o padre revela aos moradores ali presentes:
PADRE
JOSÉ – Senhores, Senhoras, Deus esteja convosco. Mas tenho um aviso. Recebi um
comunicado de que a Serpente vai aparecer ao final desta missa. Por favor, não
temam, o Senhor estará com todos nós. Ela só quer encontrar sua mãe.
POTYRA - Que diabos estão todos a olhar? Vou
embora desse lugar. (E FUGIU DALI E NUNCA MAIS SE OUVIU FALAR DELA. NINGUÉM
NUNCA FICOU SABENDO QUEM ERA A MÃE DA SERPENTE). – somente a expressão do corpo
pelo personagem
NARRADOR – A serpente sumiu na mata. Para alguns
moradores a serpente não morreu, apenas adormeceu com o próprio veneno, pois
picou sua própria cauda, desesperada por não ter encontrado sua mãe. Abriu-se
então uma enorme cratera que a engoliu completamente. Depois de certo tempo
esta cratera se fechou sem deixar vestígios na mata
ÚLTIMO ATO:
Entra
uma a um dos personagens. Dirigem-se à frente do cenário, faz sua fala e volta
dois passos para traz.
Terminada
todas as falas, entra todos os personagens ao palco. Em seguida dão-se as mãos,
caminham dois passos à frente e agradece e saúda o público num gesto habitual
do teatro.
Poema compor a Lenda. Também um grito de alerta e
apelo contra o aborto.
Música de meditação ao fundo.
PADRE
JOSÉ - Muitos dizem que a serpente vive até hoje. Está adormecida. Relatam que
se alguém tirar a imagem de Nossa Senhora das Dores do seu lugar no altar da
igreja, a criatura despertará, a cratera onde está enterrada irá se abrir e a
cidade de Itapecuru-Mirim vai desaparecer.
PEDRO
- Há quem diga que a igreja da vila, hoje N. S. das Dores, foi construída sob
uma parte de sua moradia. Na igreja matriz está o rabo. O corpo passa por baixo
do relógio e suas cabeças em baixo da ponte.
LÚCIA
- Diz ainda a lenda, que apenas uma vez a sua cauda se mexeu, abalando as
paredes da igreja e depois se acomodou caindo novamente em sono profundo. Dizem
que se ela voltar a se mexer a torre da igreja cairá.
JOÃO
– A Lenda da Serpente Itapecuruense cresce no imaginário popular sobre vários
aspectos. Há quem diga que a cabeça da serpente é que está debaixo do altar de
N.S. das Dores, e sua calda na extremidade da ponte sobre o rio. Há quem diga
que a serpente tinha penas uma cabeça. Mas numa coisa todos tem a mesma versão:
A serpente se despertada de seu sono profundo destruirá toda a cidade de
Itapecuru-Mirim lavando-a para sua cratera ou seu túmulo, com queiram chamar.
Pois sua fome será tão grande que nem todos os seios de todas as mães poderão
lhe saciar. Assim devorará todos que pela frente encontrar.
SERPENTE
–
Credo,
Cruz!
Lá
vem a Serpente
Cabeça
de luz
Devorar
toda a gente!
Serpente
da terra
serpente do mar
Atrás da sua mãe
querendo mamar.
Criança
chorando
do ventre arrancadas
assassinadas.
A
cova da serpente
Por toda Vila a cortar
Mortal a assombrar.
Hoje as Avenidas
na cidade construída
sufoca o grito de medo
pelo progresso, pelo enredo
da dor e
das vidas destruídas.
Credo,
Cruz!
Lá
vem a Serpente
Cabeça
de luz
Devorar
toda a gente!
Rosário
de Nossa Senhora/ nos socorrei.
Serpente
é mãe que mata a vida/ Agnos’dei.
Em
mitos e crenças antigas
Aborto/
maldição/ ferida
Senhora
das Dores/ afasta esta maldita
Dos
lares/ de vida.
Credo,
Cruz!
Lá
vem a Serpente
Cabeça
de luz
Devorar
toda a gente!
POTYRA
– Há quem afirme que, o encanto só termina quando a serpente encontrar sua mãe
e mamar no seio dela.
LUÍS
– Pela Provisão Régia de 21 de julho de 1870, Lei Provincial nº 919, a Vila de
Itapecuru-Mirim, foi elevada à categoria de cidade, sendo criado o Município do
mesmo nome com extensão territorial de 2.612,50 Km².
POTY - Itapecuru Mirim era uma vila decadente de
ruas estreitas e casarões de taipas sem estética urbanística, quando da
elevação a cidade. Modernizada por Tiago Bernardo Matos, em 1942, criando um aspecto modernista, com planejamento. Criou o
projeto urbanístico com amplas avenidas arborizadas, construindo praças com
jardins e canteiros. Fez o alargamento e alinhamento das ruas e avenidas.
Deu personalidade à prefeitura
Municipal, dando-lhe um prédio próprio adequado ao seu funcionamento. Assim
dando início à construção do imponente e belo edifício onde hoje é o Palácio Municipal, um patrimônio que deveria ser tombado e preservado na sua íntegra.
─ Pois bem, Contamos a
Lenda da Serpente,
uma
das mais antigas de nossa cidade.
Agora, quem quiser que invente,
ou
conte outra...
Outra
Lenda pra gente!
Sem
revelar a nossa idade.
FIM
Aumenta
o volume musical
Fecham-se
as cortinas.
Todo e elenco e produção dirigem-se para frente
da cortina e saúda mais uma vez o público.
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