segunda-feira, 21 de julho de 2025

 



ENTENDENDO A HISTÓRIA

Itapecuru Mirim: sua gente, sua história (Pessoa, 2015)

 “A região, inicialmente habitada por indígenas, viu a chegada de portugueses e a construção dos primeiros engenhos, como o Engenho do Itapecuru”.


A primeira referência histórica sobre Itapecuru Mirim, que se tem registro data de 1648, e refere-se à consulta do Conselho Ultramarino ao Rei D. João IV, acerca da mudança da sede do Governo de São Luís/MA, para Itapecuru Mirim (Buzar, 2013).

Em 25 de agosto de 1768, foi enviado ao Rei de Portugal, D. José, um pedido dos moradores da Ribeira do Itapecuru, para expedir um alvará de confirmação da vila, datado de 12 de setembro de 1767, no entanto ficaram por mais de 50 anos sem respostas.

Mas, o núcleo de Itapecuru Mirim entre os anos de 1795 a 1808, cresceu e passou a se chamar Arraial da Feira, localidade onde se juntavam boiadas para serem negociadas nas fazendas, proporcionando dessa forma, o sustento dos lavradores, bem como dos habitantes do povoado. O seu crescimento e enriquecimento à época, deu-se pela atividade do comércio, da produção de arroz, algodão e criação de gado.

Com o crescimento populacional, e por ter uma posição geográfica privilegiada, pois, o sítio urbano localizava-se bem próximo à margem do rio Itapecuru, Arraial da Feira, pela provisão régia de 25 de setembro de 1801, passa a ser chamada de Freguesia de Itapecuru, referindo-se ao rio, sob a invocação de Nossa Senhora das Dores, um distrito subordinado ao município de São Luís.

DETALHE: Freguesia era uma divisão territorial administrativa criada pelo regime português, obrigatória para a igreja católica (as santas missões) e o Estado, e dando sequência aos eventos de prosperidade eram criadas as Vilas, e posteriormente, Cidades (Santana, Blog 2017).



Seguindo seu curso e desenvolvimento, torna-se Vila de Itapecuru Mirim também por provisão régia de 20 de outubro de 1818, quando foi constituída a Casa de Cadeia e Câmara, desmembrada de São Luís, constituindo-se assim, um distrito sede, já com a nomeação de dois Tabeliães Públicos Judiciais e de Notas, entre outros cargos importantes para a Vila, conquistando sua autonomia política. Mais tarde foi criada a Comarca de Itapecuru Mirim pela Carta de Lei Nº 07/1835, hoje, Fórum Desembargador Raimundo Publio Bandeira de Melo, como instituição judiciária.

O nome Itapecuru Mirim foi para diferenciar de Itapecuru Grande (hoje, Rosário/MA).

Itapecuru Mirim tornou-se uma das mais prósperas vilas do Maranhão de 1818 a 1880, atrás somente da capital São Luís e de Caxias, tendo importante participação na história do Maranhão, como por exemplo, na adesão do Maranhão à independência do Brasil, na Guerra da Balaiada, dentre outros fatos marcantes do Maranhão e do Brasil.

A Vila de Itapecuru Mirim foi elevada à categoria de cidade em 21 de julho de 1870, pela Lei Provincial Nº 919, conferido pela Coroa Portuguesa como um título de reconhecimento pela importância administrativa e populacional.




Itapecuru Mirim, cidade de relevo bastante modesto, com uma riqueza única que tem o rio de mesmo nome, o rio Itapecuru, principal atrativo natural, possuidora de uma vasta riqueza cultural e religiosa. A cidade dos babaçuais. Somos todos frutos da miscigenação dos povos europeus, africanos, indígenas. Cada um de nós herdou um pouco dessa mistura que teve início há quase quatro séculos. Somos um povo mestiço, negro, indígenas, colonos portugueses, além dos sírios, libaneses, árabes, japoneses, gaúchos, paraibanos, cearenses, baianos e paraenses e tantos outros que aqui aportaram buscando oportunidades. Um povo tipicamente itapecuruense que canta e encanta, mas que também sofre, luta, estuda e trabalha.

Nosso povo contempla os trabalhadores e trabalhadoras rurais, artesãs, pescadores, extrativistas, empresários, formais, informais, trabalhadores da saúde, da educação, do entretenimento, nossos alunos, universitários, enfim, cidadãos sonhadores e realizadores. Porém, uma parte, há de se cuidar para não perdermos a luta para as drogas e a violência.

 Temos história, cultura, literatura, artes e itapecuensidade no sangue e na alma.  Nossa culinária é densa, fecunda. Nossa fauna e flora rica, única. Somos meio amazônicos, meio cerrado.

Nosso hino, fala por nós: “Terra de amor, Itapecuru”. Nossa bandeira traduz o nosso amor por nossas riquezas, onde a “estrela” contida no canto superior direito, representa a Constelação do Cruzeiro do Sul, mas também a cidade de Itapecuru Mirim nos céus do Maranhão/Brasil. Nosso Brasão resume nossa história, nossa riqueza, nosso povo.

            Somos lendas, crendices, superstições, cantigas, danças, festas. Somos folclore, a cultura popular. O nosso jeito de pensar, agir e sentir nos define. Estamos nas entranhas das religiões e na crença de um Deus único, soberano, indivisível.

Itapecuru Mirim e seu povo tem essa mágica única de manifestar sua alegria, celebrar e agradecer.

 

RESUMÃO – LINHA DO TEMPO DE ITAPECURU MIRIM/MA.

Habitação Indígena – mais de 347 anos

Tempo de existência (primeiros registros – 1948) – 347 anos

Núcleo desanexado de Rosário – (1795) – 230 anos

Freguesia – (1801) – 224 anos

Vila – (1818) – irá completar em 2025, 207 anos – data mais importante para Itapecuru Mirim, quando adquiriu sua Autonomia Política e Administrativa.

Apogeu da Vila do Itapecuru Mirim – 1818 a 1880.

Cidade (1870) – 155 anos.

 Que o nosso povo continue guerreiro e aguerrido!



Texto da Professora, escritora, pesquisadora e ativista cultural Assenção Pessoa.

16/07/2025.



LOUVAÇÃO A ITAPECURU-MIRIM

Assenção Pessoa

 

 

Minha bela cidade!

De povo alegre, desperta humilde.

Ordeira e gigante, e a esperança de vê-la brilhante.

Dos filhos da terra ao o imigrante/

Louvores além da ribeira distante.

 

Minha bela Itapecuru! Cidade e rio

Pérola fulgente de céu cor de anil

Saudade dos teus, ecoa nos recantos,

Desse nosso Brasil

Sussurram teu nome sutil

Itapecuru encanto juvenil.

 

Minha bela cidade!

Eu quero viver, a tua beleza, tua poesia.

Quero respirar, teus cultos, tuas lendas...

Cantos e fantasias.

Nas águas do teu rio, meu corpo banhar,

E ver o molejo da morena faceira,

Ao lado da ribeira, desnuda a bailar.

Liberdade tigreira, mistério a saudar.

 

Minha bela cidade! / de lutas e glórias

A terra do índio/ orgulho e vitória

Ó ninho do pássaro!

Xexéu da Ribeira/ és tu Itapecuru

De norte a sul/ Jardim do meu Maranhão/

Que outrora vivera.

 

 


sexta-feira, 13 de junho de 2025

             

                                                     Foto: Luís Lopes de Mendonça e Filomena Suzana Lopes

 LUÍS LOPES DE MENDONÇA

                   UM DESBRAVADOR FERROVIÁRIO NO PROGRESSO DE ITAPECURU MIRIM/MA.

 

Luís Lopes de Mendonça nasceu em 5 de agosto de 1890 no Estado da Paraíba, sertão paraibano. Filho de família pouco abastarda, e devido à falta de terras e sem condições de produzir os alimentos da agricultura de subsistência, Luís Lopes foi obrigado a sair de casa muito jovem por longos períodos, em busca de trabalho braçal nas fazendas de algodão, outras plantações e pecuária.

 Cansado de trabalhar com mão de obra barata em troca de alimentos ou salários irrisórios, Luís Lopes migrou para o Maranhão, chegando a Itapecuru Mirim, por volta de 1906 para trabalhar na construção da linha férrea A. E. F. São Luís-Teresina, no trecho Kelru – Itapecuru chegando até Cachimbos, prolongado depois em 1920, até a cidade de Caxias.

 Luís Lopes Mendonça como outros trabalhadores, tiveram participação ativa, com mão de obra braçal, na construção da via férrea. Esse fato iniciou um novo ciclo na vida desse paraibano de fibra, que não tinha medo de trabalho.

             Ainda muito novo e de estatura mediana enfrentou com coragem o trabalho pesado de erguer a via férrea, abrindo caminhos e demonstrando liderança entre os companheiros. Essa qualidade de líder lhe rendeu o antigo cargo de Feitor, uma espécie de gerente da construção da via. Agora não mais como ‘cassaco’, mas, como trabalhador efetivo da Estrada de Ferro, sua função era comandar e não mais ser comandado.

 Com muita seriedade, Luís Lopes contribuiu para construção de toda a via que ligava Cachimbos (Cantanhede) a Kelru (Itapecuru) e depois até Caxias. Luís Lopes Mendonça foi uma peça fundamental nesta grande obra. Esse fato também influenciou a vida do senhor Luís Lopes na organização social da comunidade Trizidela em Itapecuru Mirim. 

 Luís Lopes, aqui constituiu família. Casou-se pela primeira vez aos 22 anos, em 1912. Ficou viúvo sem ter filhos. Como não era dado a viver sozinho, algum tempo depois casou-se novamente. Dessa união nasceu sua primeira filha Luísa, que teve dois filhos: Antônio e Ribamar (netos de ‘seu Luís’, como era mais conhecido).

 Enviuvou novamente. E tempos depois, viu sua única filha morrer no parto do seu segundo filho (Ribamar). Luís Lopes ficou com os dois netos e mais uma vez sozinho.

         Em 1948 casou-se com Filomena Susana Matos, da Família Matos de grande influência em Itapecuru Mirim. Dessa união nasceram duas filhas: Benedita Suzana e Tereza Suzana.

 

Luís Lopes no casamento de sua filha Benedita.

Pela proximidade da sua residência também com BR 222, os viajantes sempre se aportavam na residência do casal para descansar e se alimentar.

 Aos 65 anos (1955) Luís Lopes se aposenta da Rede Ferroviária S. A.  Rede ferroviária que liga a capital do Maranhão, São Luís à Teresina, capital do Piauí.

         Luís Lopes de Mendonça, além de ser um funcionário da “Estrada de Ferro”, era lavador, horticultor, criador de pequenos animais domésticos e também algum gado. Dono de um pequeno comércio varejista e açougue, Luís Lopes alavancou o comércio local da Trizidela contribuindo para o desenvolvimento da economia local, da mesma forma que contribuiu para a conclusão da Estrada de Ferro São Luís - Teresina, no âmbito da cidade de Itapecuru Mirim/MA.

         Empreendedores, Luís Lopes de Mendonça e Filomena Suzana Lopes, morando próximo da Estação Ferroviária (no bairro Trizidela), colocaram um pequeno restaurante, o qual fornecia alimentos aos funcionários da REFFSA que trabalhavam na Estação de Itapecuru Mirim, e também aos funcionários dos trens de passageiros, trem pagador e de cargas (tudo por pré-agendamento). Durante a parada do trem de passageiros na Estação, a venda era de bolos, cafés e produtos afins.

         Luís Lopes era incansável. O grande mestre não parava. Cativou todos com sua generosidade. Nunca negava ajuda a quem o pedisse. Sempre alimentava a quem não podia pagar, dava água a quem tinha sede. E dormida a quem não tinha onde pernoitar. Enérgico sim, porém, um senhor bondoso, de grande espírito solidário.

          Luís Lopes de Mendonça faleceu em 10 de julho de 1980, aos 90 anos, após uma longa luta contra um câncer de esôfago. Deixou, a esposa, 2 filhas, 6 netos, 9 bisnetos e 1 tataraneto de cinco meses, na época.

 

                     Última despedida, no Bairro Trizidela ao lado da Estação, em frente à sua residência. Filhas, netos, bisnetos, genros, e demais familiares.





 Texto de Assenção Pessoa

Professora Especialista, com formação em Biologia, Escritora, Pesquisadora, Ativista cultural,
Membro da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes (AICLA).