terça-feira, 14 de novembro de 2023

 

HOMENAGEM A GONÇALVES DIAS


GONÇALVES DIAS E OS GONÇALVES DE TODOS OS DIAS

Maria da Assenção Lopes Pessoa


“Minha terra tem palmeiras, /onde canta o sabiá,

as aves que aqui gorjeiam, /não gorjeiam como lá...”

 

(Fragmento de Canção do Exílio, Gonçalves Dias)


Esses versos com efeito mágicos, reafirma que esse poeta se permite para todas as idades, gerações e descendências, por certo atemporal, como é a vida romântica de um exilado em sua própria essência.

Todos nós sabemos da importância de Gonçalves Dias (1823-1864) para a geração romântica de outrora e para a contemporaneidade.  Maranhense com frágeis anseio saudosista, um naufrágio, foi o protagonista do encerramento precoce de sua história. Poeta de romântico indianista, nacionalista, tendo como ícone a Canção do Exílio (1843), a poesia mais ditada, mais imitada, mais parafraseada de todos os tempos. Poesia emblemática de feição amorosa, onde se percebe a idealização da figura feminina intrigante desse período de sua existência poética e histórica, além da expressão de um nacionalismo, um orgulho exagerado por sua terra natal, onde exalta a sua exuberante natureza.

Inserido em uma escola estética com característica sentimental indócil, a individualização e idealização do amor-perfeito, os Gonçalves Dias atuais ainda buscam esse sentido para suas poesias. Poetas de diversos estilos, seguidos por diversos autores reconhecidos, ou anônimos, que certamente poderiam ser os mais lidos e apreciados pelos mais diversos tipos de leitores. Nos Gonçalves de todos os dias, percebem-se outros poetas e romancistas a transcender o espírito nostálgico do romantismo brasileiro.

Castro Alves, por exemplo, o poeta dos escravos, o principal poeta da Terceira Geração desse entoar Romântico, retrata, sob o efeito do lírico-amoroso, a influência ultrarromântica da poesia vivida por Gonçalves Dias.  

A duas flores

São duas flores unidas, /São duas rosas nascidas

Talvez no mesmo arrebol, /Vivendo no mesmo galho,

Da mesma gota de orvalho, /Do mesmo raio de sol.

[...]

Unidas, bem como os prantos, /Que em parelha descem tantos

Das profundezas do olhar... /Como o suspiro e o desgosto,

Como as covinhas do rosto, /Como as estrelas do mar.

[...]

(Espumas Flutuantes)

Álvares de Azevedo, outro poeta da 2ª geração romântica brasileira, nos seus versos de A Lagartixa, – “Tu és o sol e eu sou a lagartixa” – a figura do amante idealizado, compara o sujeito lírico a uma lagartixa, fugindo o nobre poeta do “eu” lírico, padrão romântico heroico e virtuoso, ao mesmo tempo, em que o representa na forma animal.

A Lagartixa

A lagartixa ao sol ardente vive /E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida, /Tu és o sol e eu sou a lagartixa.
[...]
Vale todo um harém a minha bela, /Em fazer-me ditoso ela capricha...
Vivo ao sol de seus olhos namorados, /Como ao sol de verão a lagartixa.

Casimiro de Abreu, também da 2ª geração romântica, autor de As Primaveras, no poema Meus Oito Anos, descreve uma nostalgia bucólica, marcada pela simplicidade e por uma espontaneidade que se reporta ao seu patriotismo e sua idealização amorosa, seguido do pressentimento da morte. Os poemas de Casimiro apresentam-se num contexto de fuga de um presente inquieto, atordoado, atendo-se ao passado, como único refúgio seguro e feliz a lhe proporcionar uma singular existência configurada na poesia de fluido gonçalvino.

Meus Oito Anos

"Oh! que saudades que eu tenho /Da aurora da minha vida, /Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais! /Que amor, que sonhos, que flores, /Naquelas tardes fagueiras

À sombra das bananeiras, /Debaixo dos laranjais!

 

Como são belos os dias /Do despontar da existência! /– Respira a alma inocência

Como perfumes a flor; /O mar é – lago sereno, /O céu – um manto azulado,

O mundo – um sonho dourado, /A vida – um hino d’amor!

[...]

 

A poesia romântica de Gonçalves Dias se entranha na poesia dos poetas brasileiros, com recusas por vezes intensas, por vezes amarguradas, solitárias, entristecidas. Mas, ainda assim, é o gênero mais preferido dos leitores. Será por que somos eternos e irrecuperáveis românticos? Os versos do romantismo sempre povoam o nosso célebre imaginário, deixando marcas indeléveis de nossa memória afetiva na nossa história e na história da literatura nacional.

 

Os Gonçalves de todos os dias, estão nas calçadas recitando os poemas da vida, dentro dos escritórios, em salas com ar condicionado ou ao ar livre. Desde o período romântico até os dias modernos contemporâneos temos uma fila de poetas cuja missão é levar esses estilos de vida, aos apreciadores da língua e da literatura portuguesa-brasileira. De Gonçalves Dias a Paulo Leminski, no seu jeito irreverente de se comunicar por meio da poesia, temos um leque de autores que, imensuravelmente excêntricos, descrevem, além do clássico romantismo, toda a diversidade poética presente na natureza e na vida. Destaco aqui Chico Buarque de Holanda, Maria Firmina dos Reis, Fagundes Varela com exemplo desses contrastes na sua forma de falar dos sonhos, reivindicar direitos e respeito, além de expressar todas as formas do amor e de amar.

O romantismo de Chico Buarque e Tom Jobim transborda no amor pelas descrições sofridas no sujeito em transformações, aportando na modernidade, viajando nos campos da sexualidade, identidade e liberdade. O amor transborda pelos poemas de Chico Buarque, nas suas músicas e livros. Na canção Sabiá apresenta uma das releituras e citações de Canção do Exílio.

Sabiá

Vou voltar /Sei que ainda vou voltar /Para o meu lugar
Foi lá e é ainda lá /Que eu hei de ouvir /Uma sabiá

Vou voltar /Sei que ainda vou voltar
Vou deitar à sombra de uma palmeira /Que já não há
Colher a flor que já não dá /E algum amor talvez possa espantar
As noites que eu não queria /E anunciar o dia
[...]

 

          Maria Firmina dos Reis (1822-1917), maranhense, contemporânea precursora do romantismo afrodescendente, traz na sua escrita a luta silenciosa abolicionista, antes mesmo de Castro Alves. Úrsula, sua obra mais completa, reflete exatamente o empoderamento da mulher negra na nossa literatura, traz a negritude para o centro, o sujeito protagonista de sua história, com a sua própria linguagem e experiências.

 

Meteram-me a mim e a mais trezentos com­panheiros de infortúnio e de cativeiro no estreito e infecto porão de um navio. Trinta dias de cruéis tormentos, e de falta absoluta de tudo quanto é mais necessário à vida passamos nessa sepultura até que abordamos as praias brasileiras”. (Úrsula, 1859)

 

Escritor e boêmio carioca, Fagundes Varela (1841-1875), foi de uma geração ultrarromântica. Assumindo um tom bucólico, suas composições se focam em descrever a natureza. Presente identificada por muitos dos seus pares contemporâneos, o poeta evidencia seus sentimentos mais negativas, como a melancolia, o pessimismo, a obsessão pela morte, a obstinação em fugir da realidade. Ainda assim, sua lírica demonstrava temáticas políticas e sociais, fatos que o aproximavam de gerações futuras. Varela, o poeta de transição, assimilou traços do Romantismo em sua mais diversas fases. Cântico do calvário, é um poema emocionante, escrito em memória de seu filho de 11 anos, que está no livro Cantos e Fantasias (1865), o mais conhecido.

 

Cântico do calvário

[...]

Que belos sonhos! Que ilusões benditas! /Do cantor infeliz lançaste à vida,
Arco-íris de amor! Luz da aliança, /Calma e fulgente em meio da tormenta!

[...]

 

Machado de Assis (1839-1908), foi um autor com um arcabouço de influência romântica, eterna, como mostra suas obras Ressurreição (1872), Histórias da Meia-noite (1873), A Mão e a Luva (1874).

 

Um nome pouco lembrado deste período foi a professora, poeta Narcisa Amália de Campos (1852-1924), primeira mulher jornalista desse nosso país, vasto de intelectualidades femininas anônimas e esquecidas ao longo do tempo. Com forte consciência social, demonstrado em seus artigos de opinião, Narcisa reflete acerca dos direitos das mulheres e pessoas escravizadas, além de assumir outras posturas na literatura, alcançando grande projeção em todo o Brasil. Nebulosas (1872), único livro publicado, é um exemplo dessas preocupações, versando também os sentimentos e a exaltação à natureza.

 

Por que sou forte

 

Dirás que é falso. Não. É certo. Desço /Ao fundo d’alma toda vez que hesito...
Cada vez que uma lágrima ou que um grito /Trai-me a angústia - ao sentir que desfaleço...
[...]

É que há dentro vales, céus, alturas, /Que o olhar do mundo não macula, a terna
Lua, flores, queridas criaturas, /E soa em cada moita, em cada gruta,
A sinfonia da paixão eterna!... /- E eis-me de novo forte para a luta.

 

Cecília Meireles (1901-1964), com temas recorrentes sobre o amor, a mote, o tempo e a eternidade, primeira escritora brasileira a se tornar realmente famosa no meio literário. Tema que estão evidenciados em Vaga Música e Mar Absoluto. Com apenas 18 anos, Cecília se integra ao mundo editorial. Os poemas, romances, literatura infantil e textos jornalísticos estão presentes no seu vasto currículo premiado.

 

Mar Absoluto (fragmentos)

 

Foi desde sempre o mar, /E multidões passadas me empurravam
como o barco esquecido.

[...]

Então, é comigo que falam, /sou eu que devo ir.
Porque não há ninguém, /tão decidido a amar e a obedecer a seus mortos.

[...]

 

            Falando de escritoras, refiro-me a Mariana Luz (1871- 1960), poeta maranhense da cidade de Itapecuru Mirim, que se pode observar na sua escrita, os traços da escrita de Narcisa Amália, Maria Firmina dos Reis e outras autoras brasileiras. Com apenas uma única obra publicada, Murmúrios, essa obra passeia por temas melancólicos de amor e dor, vida e morte, além de traços religiosos. Entre o preconceito e a invisibilidade, Mariana Luz, ainda assim, consegue ser a 2ª mulher a entrar para a Academia Maranhense de Letras (1949). Isolada na solidão de seus dias, Mariana merece reconhecimento e uma reparação histórica, por seus escritos de valor imensurável na literatura do Brasil.

 

Supremo Amor

(Mariana Luz)

 

[...]

Se te perdesse, ó Deus, quantas angústias,

Que martírio cruel não sofreria

Meu pobre coração que te ama tanto

E cujo afeto aumenta dia a dia.

[...]

 

O mundo literário atual do Brasil está repleto dos vários Gonçalves Dias, nos dias atuais. O romântico que lateja nos corações avassaladores, no amor à natureza e às diversas causas: indígenas, feminicídio, valorização do negro, da mulher, das relações de gênero, enfim, nos que punge e dilacera, os arrancando do ostracismo presente na vida de poetas e romancistas famosos ou anônimos escritores brasileiros e leitores compulsivos.

 

Ao observar os compositores das músicas do Bumba-meu-Boi maranhense, os trovadores, os repentistas, os cordelistas na nossa região nordestina, vejam que está presente em algum ponto expresso ou nas entrelinhas, os traços de Gonçalves Dias, o amor à pessoa amada, a saudade, o espírito de luta e contemplação, a condição do poeta lírico-amoroso, indianista, também presente nas nuances dos autores e autoras maranhenses.

 

Urrou de boi

 

Lá vai meu boi urrando, subindo o vaquejador

Deu um urro na porteira, meu vaqueiro se espantou

E o gado da fazenda com isso se levantou

Urrou, urrou, urrou, urrou,

Meu novilho brasileiro, que a natureza criou...

[...]

 

(Mestre Bartolomeu dos Santos, o mestre Coxinho, 1972)

  

Passando pela geração dos novos poetas líricos-romântico maranhenses, o que dizer dos escritores itapecuruenses, nas mais diversas escolas da literatura brasileira, como, Assenção Pessoa, Teotônio Fonseca, Moaciene Lima, Samira Fonseca e tantos que ainda nem sequer conseguiram publicar seus escritos? O Maranhão, traz a marca do Brasil linguístico, protagonista da poesia e de grandes poetas. Inserido nesse contexto, Itapecuru Mirim, cidade mais que hospitaleira, é a cidade dos mais diferentes Gonçalves Dias, na poesia, no romance, nas diversas formas de expressão romântica, escola mais vivida por suas leituras e seus leitores. Essa geração contemporânea traz o reflexo das escolas literárias anteriores, mas, sem se perder do tempo de agora. Ainda, nesse contexto podemos encontrar os nossos Gonçalves Dias nas grandes profissões de advogados, jornalistas, etnógrafos e teatrólogos...

 

Tudo passa. Tudo fica. O vento passa. E leva tudo.

Mas a obra permanece.

E faz surgir futuros Gonçalves Dias, todos os dias.

 

 A Academia Itapecuru Mirim e a Prefeitura de Itapecuru Mirim promoveram a 6ª Festa Literária de Itapecuru Mirim (FLIM), nos dias 8,9 e 10 de novembro de 2023.  O tema deste ano foi: Os duzentos anos de Gonçalves Dias.

Alguns registros dessa linda festa.












 Assenção Pessoa, Professora, escritora, poeta. Membro da ACADEMIA ITAPECURUENSE DE CIÊNCIAS LETRAS E ARTES (AICLA)

domingo, 3 de julho de 2022

 


Vida e morte, morte e vida

                                                                              (Assenção Pessoa)

Fonte da Miquelina, Itapecuru Mirim (MA/Brasil)


Cada dia que se acorda é um dia a menos que se vive. É um dia a mais para se contemplar a vida. Cada vez em que se celebra mais um aniversário, é um ano a menos de vida. Mais um ano vivido, menos um ano de vida. A cada dia, a cada ano nos aproximamos mais da morte.

A cada acordar ao amanhecer, temos gratidão pela vida. Em cada amanhecer nos deparamos com a morte, que nos ronda. É fato. Consegue entender esse antagonismo?

        Somos movidos pela força motriz da vida. Mas somos levados a caminhar de encontro com a morte. O espaço do tempo que nos separa da morte, nos une para contemplar a vida. São por estas razões que precisamos está perto de quem se ama, de quem vai nos fazer falta. Demonstrar carinhos, afetos, companheirismos, alegrias com as pessoas que nos fazem bem. Orar pelas pessoas que nos quer o mal. Porque a cada amanhecer é uma despedida. É um tchau, estou indo embora.

Cada encontro e reencontro é um caminhar para uma despedida.

           A proximidade da morte deve nos levar a refletir sobre a vida. O que de fato estamos fazendo a cada amanhecer para nos aproximar da Criatura que nos deu a vida? Qual o propósito de cada um de nós quando nascemos, além de nascermos para buscar a morte?

Contemple e respeite o ambiente que te proporciona a vida, que te oferece o oxigênio que tu respiras, a água que te hidrata e mata tua sede, o alimento que sustenta tuas células, teu esqueleto e sacia tua fome.

Busca o Deus que no infinito da tua essência está lá para tu sentires a Tua presença. Busque ser um Ser cada vez mais vivo, apesar da morte. Vivo no sentido de cuidar bem de você mesmo, para também cuidar bem de todos e de tudo à sua volta.

Não só o início que nos aproxima do fim. É também a nossa forma de viver e de contemplar a vida. Você morre a cada dia mais rápido pelo alimento que ingere, pelo sedentarismo que pratica, pelos líquidos que escolhe para deglutir.

Você se aproxima do fim cada vez que seu coração se molesta de raiva, rancores, tristezas. Os benefícios saudáveis do século te aproximam da vida. Vida, início e meio. Os males do século te aproximam do fim.

Vivamos então a vida em toda sua complexidade. Vivamos o caminho que nos leva ao encontro da morte. A morte que nos leva ao encontro de outras vidas.

 

 

Itapecuru Mirim, 07/07/22.


Assenção Pessoa

domingo, 8 de agosto de 2021

DIA DOS PAIS, DA HISTÓRIA À REALIDADE

 



DIA DOS PAIS, DA HISTÓRIA À REALIDADE

Já na Antiguidade, há mais de 4 mil anos o jovem Elmesu, filho do rei Nabucodonosor teria moldado em argila, o primeiro cartão que fazia referência ao dia dos pais, e nele teria desejado saúde, sorte e vida longa a seu pai. 

Pensada para fortalecer os laços familiares, o dia dos pais, comemorada pela primeira vez no dia 19 de junho de 1910 em homenagem ao ex-combatente americano William Jackson Smart, que ao perder a esposa após o nascimento de seu sexto filho, cuidou sozinho da prole com muita dedicação e zelo. Sua filha Sonora Louise Smart Dood, ao assistir um sermão dedicado às mães, quis naquele momento agradecer tamanha dedicação de seu pai. Estava criado o Dia dos Pais celebrado no terceiro domingo de junho nos Estados Unidos. 

No Brasil, o publicitário Sylvio Bherinh através de um concurso homenageou há três categorias de pais, mais jovem com 16 anos, e o mais velho com 98 anos e o pai com maior número de filhos, este, com 31 filhos. Este fato se deu em 14 de agosto de 1953, oficializando assim, o segundo domingo do mês agosto, como o Dia dos Pais. Por diversos países a data tem sido comemorada em datas diferentes, apenas a África do Sul segue a tradição brasileira.  

Tal como o dia das mães,dia dos pais é uma das datas mais prestigiadas no Brasil e no mundo, tornando-se também importante propulsor para o comércio.

História à parte, o que dizer de nossos pais hoje? Nossos pais tão importantes no desenvolvimento da identidade de nossos filhos? 

Na família acontece a socialização primária, onde são transmitidos valores e comportamentos que influenciam a vida dos filhos, para o resto de suas vidas. Os pais, assim como a família, representa para os adolescentes a segurança, que por seus pais buscam a coerência sobre si próprio e seu modo de ver, ouvir, sentir, agir, e de ver a vida a partir do exemplo mais fiel que são seus pais (Piaget). Os pais tendem a satisfazer as necessidades primordiais das crianças e demonstrar por elas uma forma de amor leal e paternal imensurável. São desses pais que estamos necessitando numa sociedade em que as boas referências paternas estão quase em extinção. 

Não queremos um modelo exclusivo de pai, pois, diante das diversas estruturas familiares, a única referência de pai que desejamos é àquele que se importa com o bem-estar físico, social e psíquico de suas filhas e filhos. 

Aproveitemos este Dia dos Pais para refletirmos sobre qual Pai estamos sendo? Como estamos nos comportando diante de nossos filhos? Qual o nosso legado para eles?

Que o Dia dos Pais não sirva somente para impulsionar o comércio local, mas que sirva para os nossos pais rever sua função e seu amor diante de filhos tão carentes de pais PRESENTES.

Parabéns a meu pai Antônio,

    ao pai dos meus filhos, Leonidas,

       aos meus filhos que também são pais, Hugo, Higo e Junior.

Parabéns aos Papais da minha família, aos papais amigos e da nossa bela Itapecuru Mirim.

               Feliz Dia dos Pais! Feliz Dia das Mães que também são Pais!


                                                        







Assenção Pessoa, Professora, escritora, membro da AICLA.

 


terça-feira, 20 de julho de 2021

“TERRA DE AMOR, ITAPECURU”

 


 


151 ANOS DE ELEVAÇÃO À CONDIÇÃO DE CIDADE

“TERRA DE AMOR, ITAPECURU” (trecho do Hino de Itapecuru)

 

Um status recebido pelo governo português que na época era de suma importância para a Vila de Itapecuru Mirim.

Nada mais justo eu, Assenção Pessoa celebrar esta data saudando nossa bela Itapecuru Mirim em forma de poesia.

 

 


Do livro Itapecuru Mirim, sua gente, sua história (autoria: Assenção Pessoa, 2015)

 

ITAPECURU MIRIM, CIDADE RIBEIRA

 

Antigas tribos que vilas povoam

Vem o homem branco adentram e roubam,

A alma ingênua do caboclo crioulo.

Os contos e lendas à noite amedrontam

As moças donzelas, com seus cabelos de fios de ouro.

E assim viram história. Eterna memória

Da negra mulata que rompe barreiras.

É dança, é jogo, é cidade, é fogo,

É Itapecuru Mirim, cidade ribeira.

 

 

 

ANTIGAMENTE ERA ASSIM...

 

Eu vi um menino descendo./  Eu vi uma menina subindo

Buscando água no rio./  Buscando água no rio.

Antigamente era assim que se vivia./ Antigamente era assim que se vivia

E sobe e desce ladeira... / E sobe e desce ladeira.

 

Buscava água no rio./ Buscava água no rio

Na Miquilina também./ Na Miquilina também

 

Eu vi um belo menino./ Com lata d’água na cabeça

Eu vi uma linda menina./ Com lata d’água na cabeça

E sobe e desce ladeira.../ E sobe e desce ladeira...

E sobe e desce ladeira.../ E sobe e desce ladeira.

 

Eu vi uma senhora lavando/ Lavando roupa no rio

Eu vi a senhora lavando/ Lavando roupa no rio

Antigamente existiam as lavadeiras

Lavando roupa no rio. Lavando roupa no rio

Lavando roupa no rio.

 

Eu vi dona Luzia lavando/ Lavando roupa no rio

Eu vi dona Carmina lavando/ Lavando roupa no rio

 

E bate roupa, torce roupa, bate roupa

E bate roupa, torce roupa, bate roupa

E sobe e desce ladeira.../ E sobe e desce ladeira...

E sobe e desce ladeira... / Estende roupa no cais.

 

Antigamente era assim que se vivia/ Buscando água no rio

Antigamente era assim que se vivia/ Lavando roupa no rio

Eu vi um menino pulando/ Pulando de cima do cais

O rio estava cheio/ Era tempo de chuva demais

 

E pula rio, pula rio, pula rio./ E sobe e desce ladeira.

Mais o belo menino / Caiu dentro de uma canoa

E se quebrou inteiro

 

Mas nem por isso deixaram de pular/ Subiam no cais e pulavam

E sobe e desce ladeira.../ E lava roupa no rio.

E sobe e desce ladeira.../ E pula da rampa e do cais.

E sobe e desce ladeira.../ E busca água na cabeça.

 

Antigamente era assim que se vivia/ Antigamente era assim que se vivia

Tem Miquilina, tem o Itapecuru/ Tem lavadeira, tem o menino no rio.

Tem Miquilina, tem o Itapecuru/ Tem lavadeira, tem a menina no rio.

 

E quem pulava, pulava e pulava.

Quem busca água, busca água, busca água.

Quem lava roupa, lava roupa, lava roupa.

E sobe e desce ladeira.../ E sobe e desce ladeira./ E sobe e desce ladeira.

 

Mas a linda menina pulou da rampa do rio

E quase se afogou

Mas nem por isso deixaram de pular

Desciam pra rampa e pulavam

 

E sobe e desce ladeira.../ E sobe e desce ladeira...

Antigamente era assim que se vivia

Antigamente era assim que se vivia

E sobe e desce ladeira.../ E sobe e desce ladeira...

E sobe e desce ladeira.../ E sobe e desce ladeira.

 


LOUVAÇÃO A ITAPECURU MIRIM

 

 

Minha bela cidade!

De povo alegre, desperta humilde.

Ordeira e gigante, esperança de vê-la brilhante.

Dos filhos da terra ao o imigrante/

Louvores além da ribeira distante.

 

Minha bela Itapecuru! Cidade e rio

Pérola fulgente de céu cor de anil

Saudade dos teus, ecoa nos recantos,

Desse nosso Brasil

Sussurram teu nome sutil

Itapecuru encanto juvenil.

 

Minha bela cidade!

Eu quero viver, a tua beleza, tua poesia.

Quero respirar, teus cultos, tuas lendas...

Cantos e fantasias.

Nas águas do teu rio, meu corpo banhar,

E ver o molejo da morena faceira,

Ao lado da ribeira, desnuda a bailar.

Liberdade tigreira, mistério a saudar.

 

Minha bela cidade!/ de lutas e glórias

A terra do índio/ orgulho e vitória

Ó ninho do pássaro!

Xexéu da Ribeira/ és tu Itapecuru

De norte a sul/ Jardim do meu Maranhão/

Que outrora vivera.

 

 

TERRA DOS BABAÇUS

Quebradeira de coco... Sou.
Fruto de luta e união
tenho o arrojo, persuasão,
Sou força, poder e realização.

Na Itapecuru-Mirim eu nasci
cidade altiva, terra do babaçu
que nasceu neste solo fértil
neste vale de norte a sul.

Itapecuru coberta de glórias
abençoada por Deus e por

Nossa Senhora das Dores
seu destino é sempre a vitória.

 

Quebradeira de coco... Sou.

Mulher guerreira valente
meu machado a maior razão
da bandeira de luta dessa gente,
mas que trabalha contente...

E de coração.

 

 

ITAPECURU, PARAÍSO DAS ÁGUAS

 

Itapecuru-Mirim ardente,
onde suas águas soluçam,

Lúdica, veemente...

Em seu manancial

Sábios, ilustres, poetas...

Também sofre com o sinal

De ver suas correntes

Se perderem de forma, descomunal.

 

Esta terra sempre tão fecunda...
Que a mão divina criou.
Como pode o homem destrui-la?

Aterrando seus encantos sem pudor?

 

Itapecuru Mirim, cidade querida
como queria ver-te,

Com tua fronte erguida,

Preservada até o fim de nossa vida.

 

Tens nobreza, leveza e poesia,
Tua vida é um esplendor...

Basta preservar seu paraíso

Tuas águas que da Natureza, herdou.

 

 

 

ESPECIAL PARA ITAPECURU – POEMAS INÉDITOS

 



ITAPECURUENSIDADE

 

Personagens mitológicos, é vida, é folclore

o homem que virava bicho

a mulher que virava porca.

Já a mula sem cabeça atravessava a avenida

causando medo e terror a quem a encontrasse

nas ruas de Itapecuru.

 

A Cavalacanga que de canga não tinha nada

e a estória da Serpente com a cauda na Igreja

e cabeça lá na ponte,

quando ela estremecesse e acordasse do seu sono

afundava toda a cidade, de tão grande o estrondo.

 

Tem também os banhos cheirosos,

as orações populares,

a festa da queimação do Judas,

as brincadeiras infantis – boca de forno, amarelinha,

dança de roda, jogar peão, empinar papagaio, jogar bolinhas de gude,

das memórias minha

as  canções populares misturadas

com a casa de farinha.

 

 

E as festas tradicionais?

Do Divino Espírito Santo com sua pombinha branca

e o levantamento do mastro

no rufar das caixeiras coloridas

e nos hinos de louvor à batida do tambor.

 

Festas juninas. Tem Santo Antônio, São Pedro e São João.

Tem o misto de folguedo, o espetáculo teatral.

Esse é o nosso carnaval, ao lado do futebol.

Ah! E tinha o bloco do Tusca e do Selé, o Rosa de Ouro e o Bola Verde.

Que bom lembrar as batidas do samba no batuque popular!

 

A Dança do coco, o Tambor de Crioula.

É São Benedito! É sangue africano correndo nas veias,

É cor, é raça, é negritude na cidade.

 

E no São Gonçalo dos bailes, da fanfarra,

do santo farrista e alegre, padroeiro dos boêmios, dos violeiros

das mulheres prostitutas, vem a festa mais antiga

vem trazendo solicitude.

 

O jeito itapecuruense de ser

se rebusca no folclore e na tradição

no  Bumba-meu-boi e na cadência do Reegae, lá do Oiteiro

dá Santa Rosa e Santa Joana

Aos jogos de Capoeira, ora luta ora dança,

na história de Zumbi, negro Cosme e outras heranças,

é cultura popular, é história, é festança,

é dança de rua, é arte, é itapecuruensidade.

 

 

NOSTALGIA ITAPECURUENSE

 

Bendita. Salve, salve, ó Terra!

No principio de tudo, Feira era.

Princesa cheia de graça, encerra.

Hoje, és linda, formosa, altaneira.

 

Nascida entre o vale do Itapecuru

sob o encanto de um céu azul

tem a graça de uma criança,

Itapecuru Mirim, futuro e esperança.

 

Tens a beleza de uma mulher.

No presente, poesia ao luar.

Tens a sabedoria de uma anciã,

ao banho da luz do sol, da manhã.

 

És a filha querida,

Salve, salve, ó terra!

                   Mirífica cidade, bendita.

                      Saudade e amor eterno.

 

 

ITAPECURU, TERRA E MEMÓRIA

 

À margem do rio Itapecuru

entre matas e fontes cristalinas,

entre as palmeiras de babaçu,

povos, índios e portugueses desbravam

e fazem surgir a esplendorosa menina.

Itapecuru Mirim, Cidade divina.

 

Joia do meio norte maranhense

rica, ridente ao luar da ribeira,

orgulho de ser itapecuruense.

Por meus lábios, quero cantá-la,

cidade humana e ordeira

no silêncio da brisa, quero ouvi-la.

 

 

RIO ITAPECURU, UM LEITO PERDIDO

 

Que primor, que louçã!

Onde o brilho do sol,

É muito mais intenso.

Que fauna, que flora,

Lua clara sobre o rio,

que bela flor, na primavera!

Crepúsculo de amor, encanto.

Corre em seu leito, um manto.

No percurso das águas, encanto.

Sobre teu céu, estrelas beijando.

Rio Itapecuru, rio de histórias

sublime desvelo, há de cuidar.

Por tua vida e tuas memórias,

Teu curso precioso há de salvar.

 


 

NOS CÉUS DE ITAPECURU

 

 

Surge o sol, ao ressoar

dos pássaros no ninho a cantar!

Ao revoar das andorinhas,

infinitas nuvens a saudar!

Pelas ruas, caminho satisfeito,

emoção vibra em meu peito...

Ao fitar-te Itapecuru à luz do dia,

pelos céus da poesia.

 

Cruza o espaço, sobranceiro,

o crepúsculo ao som das águas

reluzente, altaneiro.

Sob a luz refletida no teu rio,

como um mistério em que vagas,

Vem o sol despedir-se do teu dia.

 

Entra a lua toda faceira

para enfeitar-te a noite inteira

O teu céu de estrelas cintilantes.

Gigante Terra, cálida, consentida.

pelos céus de promessas contidas

por muitos pares de amantes.

 

E a lua como testemunha

da silhueta sem vergonha,

reflete em seu rio antes fecundo,

pelo seu corpo, a luz do sol,

neste e no outro mundo,

Itapecuru Terra e Rio.

Pelo céu de azul se viu

outro céu de estrelas mil.

 


 

ITAPECURU MIRIM

 

 

Brilha uma estrela

no centro do Maranhão,

no seio da Natureza, um coração.

Muito prazer em conhecê-la.

 

Surge uma cidade bela

energia que rege

uma nova era.

 

Teu céu cintilante agora

de azul da cor de anil.

Formoso também seu rio,

beija o leito, o verde da flora.

 

Teu passado bem retrata

o teu culto às tradições,

a cultura te iguala às nações.

 

Itapecuru Mirim, hoje e sempre.

Grandes vultos te souberam honrar.

O teu povo é culto e nobre.

O Maranhão é nosso altar.

 

 


ITAPECURU, ÁGUAS DE MINHA TERRA

 

Tu és o orgulho dos teus fundadores,

és monumento dos teus colonizadores,

Itapecuru Mirim! Cidade dos índios,

cidade dos negros. Cidade dos amores.

 

Às margens do Rio Itapecuru,

surgiu uma cidade, luso-pioneira,

que com trabalho plantou

uma cultura afro-brasileira.

 

Esta cidade pungente

recebe também o imigrante,

que com trabalho deixou semente,

pelo culto de homens gigantes.

 

Construída com esforço, Prece.

És um hino à cultura,

ao trabalho e ao futuro

e a esse povo que te merece.

 

Cidade do Maranhão eleita

para guardar um rio que nasce

por suas entranhas e alimenta

da Serra da Croeira a São Luís.

 

 

ITAPECURU, TEMPO DE CHUVA

 

 

Cheiro de terra molhada

o revoar dos passarinhos,

o curso do rio nas cheias,

é a pequena Pátria minha,

dentro da Pátria amada.

 

E olhar pro céu, já nublado,

ouvir o canto intimidado

do sabiá, do bem-te-vi...

A flora que ora, para.

A fauna que ora, cala.

É chuva! Na relva serenou.

E uma nuvem de inseto se formou

pra dizer que a estação verde

chegou.

 

E com as chuvas...

Brotam as vidas...

Nos campos de minha

Itapecuru querida.

 

O lavrador contente

quer ver brotar as nascentes.

Louvar e agradecer a Deus

em nome de toda essa gente.

 

Hoje tem festa. Tem canto...

Tem dança e louvação,

alegria extravasa no peito...

É a resposta, na forma de pão.

É a fartura na mesa

não só de nobreza

mas, de toda essa gente,

que planta e colhe,

que cria e respeita toda beleza.

mãos que cuidam e acolhem,

o equilíbrio da Natureza.

 

 


CIDADE DA MINHA SAUDADE!

 

 

Cidade da minha saudade

onde cresci, vivi

minha infância,

minha mocidade.

Hoje te vejo

tão despida, descuidada,

tecendo por outras estradas,

mergulhada no descaso.

Meus olhos, por ti choram,

vazios de esperança.

 

Ó Itapecuru!

tuas águas também caminham

dispersas, desfiguradas,

sozinhas.

 

Ó! Cidade da minha saudade!

Sal de prantos

corre-me a face.

De ver tuas matas

queimadas,

destruídas.

Tuas águas poluídas,

igarapés aterrados.

 

E depois...

muito tempo depois,

as chuvas, as preces,

as enchentes,

desagasalham quem não tem culpa

quem não merece.

Levam tudo

Lavam tudo...

 

Ó Itapecuru!

Pranto do meu pranto

vulto do meu vulto,

sem piedade é o povo

que te despe, te maltrata

não ouve teu grito:

- socorro!

E te mata.

 

Ainda mergulho na esperança,

quando ao longe ouço

o canto dos pássaros,

em revoada.

Bons tempos de bonança!

Espero te ver novamente

Bem cuidada, bem amada.

Ó! Cidade da minha saudade!

 

 

DO UNIVERSO PARA ITAPECURU

 

No mistério do Universo

mira-se um Planeta.

Uma terra colorida,

de arco-íris, paisagens floridas,

encantamento de vida.

Um país, Brasil,

Tropical, varonil.

 

Mira-se uma cidadezinha,

Itapecuru Mirim,

pedacinho do Maranhão.

Meu universo pequenino,

meu cantinho, meu torrão.

 

E, dentro dele, mira-se

o rio Itapecuru de águas pardas,

frias e calmas, de histórias e magias.

E a mira de uma piaba

tentando a vida de seu cardume salvar

como companheira...

Apenas algumas centelhas

de vaga-lumes a iluminar,

iguais estrelas no céu,

mostrando qual caminho traçar.

 

 


 Assenção Pessoa