domingo, 25 de agosto de 2013

O gato sou eu, de Fernado Sabino



GATO SOU EU 
Fernando Sabino



- Aí então, eu sonhei que tinha acordado. Mas continuei dormindo.
- Continuou dormindo.
- Continuei dormindo e sonhando. Sonhei que estava acordado na cama, e ao lado, sentado na cadeira, tinha um gato me olhando.

- Que espécie de gato?
- Não sei. Um gato. Não entendo de gatos. Acho que era um gato preto. Só sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato.

- A que você associa essa imagem?
- Não era uma imagem: era um gato.
- Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela?

- Associo a um gato.
- Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial. Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo. Quem pode ser essa alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na cama em seu sonho, eu aqui nesta poltrona, o gato na cadeira… Evidentemente esse gato sou eu.

- Essa não, doutor. A ser alguém, neste caso o gato sou eu.
- Você está enganado. E o mais curioso é que, ao mesmo tempo, está certo, certíssimo, no sentido em que tudo o que se sonha não passa de uma projeção do eu.

- Uma projeção do senhor?
- Não: uma projeção do eu. O eu, no caso, é você.
- Eu sou o senhor? Qual é, doutor? Está querendo me confundir a cabeça ainda mais? Eu sou eu, o senhor é o senhor, e estamos conversados.

- Eu sei: eu sou eu, você é você. Nem eu iria pôr em dúvida uma coisa dessas, mais do que evidente. Não é isso que eu estou dizendo. Quando falo no eu, não estou falando em mim, por favor, entenda.

- Em quem o senhor está falando?

- Estou falando na individualidade do ser, que se projeta em símbolos oníricos. Dos quais o gato do seu sonho é um perfeito exemplo. E o papel que você atribui ao gato, de fiscalizá-lo o tempo todo, sem tirar os olhos de você, é o mesmo que atribui a mim. Por isso é que eu digo que o gato sou eu.

- Absolutamente. O senhor vai me desculpar, doutor, mas o gato sou eu, e disto não abro mão.
- Vamos analisar essa sua resistência em admitir que eu seja o gato.

- Então vamos começar pela sua insistência em querer ser o gato. Afinal de contas, de quem é o sonho: meu ou seu?
- Seu. Quanto a isto, não há a menor dúvida.

- Pois então? Sendo assim, não há também a menor dúvida de que o gato sou eu, não é mesmo?
- Aí é que você se engana. O gato é você, na sua opinião. E sua opinião é suspeita, porque formulada pelo consciente. Ao passo que, no subconsciente, o gato é uma representação do que significo para você. Portanto, insisto em dizer: o gato sou eu.

- E eu insisto em dizer: não é.
- Sou.
- Não é. O senhor por favor saia do meu gato, que senão eu não volto mais aqui.
- Observe como inconscientemente você está rejeitando minha interferência na sua vida através de uma chantagem…

- Que é que há, doutor? Está me chamando de chantagista?
- É um modo de dizer. Não vai nisso nenhuma ofensa. Quero me referir à sua recusa de que eu participe de sua vida, mesmo num sonho, na forma de um gato.
- Pois se o gato sou eu! Daqui a pouco o senhor vai querer cobrar consulta até dentro do meu sonho.

- Olhe aí, não estou dizendo? Olhe a sua reação: isso é a sua maneira de me agredir. Não posso cobrar consulta dentro do seu sonho enquanto eu assumir nele a forma de um gato.

- Já disse que o gato sou eu!
- Sou eu!
- Ponha-se para fora do meu gato!
- Ponha-se para fora daqui!
- Sou eu!
- Eu!
- Eu! Eu!
- Eu! Eu! Eu!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

BAIXE A ANTOLOGIA




 Para conhecer a obra completa sobre o lançamento dos livros dos 190 anos de Gonçalves Dias entre nos site abaixo:


http://issuu.com/leovaz/docs/milpoemas1a-parte1

http://issuu.com/leovaz/docs/milpoemas1b_-_parte2

http://issuu.com/leovaz/docs/livro_alberico_1_

http://issuu.com/leovaz/docs/sobre_gd2a_1






LINHAS E ENTRELINHAS - DEPOIMENTO



LINHAS E ENTRELINHAS – DEPOIMENTO
Maria da Assenção Lopes Pessoa – Assenção Pessoa

Projeto “Mil Poemas para Gonçalves Dias” (09 a 14/08/2013)

Até poucos instantes, antes do embarque para São Luis, MA., para cumprir a programação do Projeto “Mil Poemas para Gonçalves Dias”, pela passagem dos seus 190 anos de vida, existiam apenas dois caminhos que me ligavam ao projeto: primeiro, o fato de ter enviado meus trabalhos poéticos, sem muita expectativa. O segundo caminho foi à aceitação de minhas poesias para fazer parte do livro antológico neste projeto.
No entanto, ao chegar ao hotel, ter me instalado, pude perceber a importância, da minha participação. Redescobrir a imortalidade de Antônio Gonçalves Dias por uma trajetória de vida e poesia, secularmente e cultivando uma revitalização, foi um verdadeiro desafio, creio eu, não só para mim, mas, para todos os envolvidos: comissão organizadora, parceiros, poetas, escritores e artistas.
Uma vez inserida na programação, percebi a alma viva e ingênua de muitos que como eu, ali estava presente.
Enganos e desenganos. Expectativas. Desejos. Esperança.
A imortalidade viva do poeta, por meio de seus mil poemas escritos em sua Antologia. A soma de mais de 700 autores e pensamentos diversos. A riqueza na fala, no expressar, no ritual de demonstrar nosso amor à “Obra” mais impressionante do Maranhão para o mundo: Gonçalves Dias.
A apresentação rica e fervorosa dos alunos e jovens, desconhecidos de São Luis, Caxias e Guimarães enaltecem a obra de Gonçalves Dias. A mesa redonda na voz de Webersom Grizoste (Centro de Estudos Clássico e Humanístico - Universidade de Coimbra – Portugal) e Edmilson Sanches (Academia Imperatrizense de Letras), trazendo à tona “A vida e obra de Gonçalves Dias” num perfeito sincronismo de idéias e valores. O lançamento do conjunto da obra: “Mil poemas para Gonçalves Dias – Antologia/ “Ilha do Amor – Gonçalves &Ana Amélia (milésimo poema)/ “Sobre Gonçalves Dias”. Tudo isso culminado com a entrega das Comendas Gonçalves Dias, justa e merecida, pois enaltecer que enalteceu o maior poeta do Brasil, também merece o reconhecimento valoroso dos organizadores de tão grandioso projeto, pois sem estes personagens, conhecidos e anônimos, não seria possível concretizá-lo.
Por fim, a viagem. Dentro da programação, estava lá, o translado para Caxias e Guimarães. Viajamos. Um grupo bem menor para somar aos que nos esperavam em suas respectivas cidades. O ônibus da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA nos serviu para que nossa “Arca” pudesse zarpar. Apesar do conforto do ônibus, o que nos uniu foi à acolhida, a amizade, as perfórmaces poéticas, a história de vida de cada um de nós. O que nos uniu foi a atenção, a sensibilização afetuosa de Dilercy Adler dispensada a esse grupo inesquecível.
Primeira parada: cidade de Caxias. Qual foi nossa surpresa, de ver que a cidade acordou para a poesia de Gonçalves Dias e nos recebe com primazia, com altivez. A programação local estava deslumbrante. Se houve falhas? Não percebemos. Tudo estava em seu devido lugar. Somente a pressa nos desconpensava um pouco.
Mas, ver aquela gente simples falar de poesia, recitar poesia, a poesia de Gonçalves Dias, foi um aprendizado muito generoso. O brilho da festa não seria possível sem a parceria e presença das dignas autoridades e organizadores locais. Mas, também não seria possível sem a presença da caravana da “Arca de Gonçalves Dias”, com intitulou nossa escritora Dilercy.
Com o grupo fortalecido, envaidecido, brincávamos envolvidos pelo toar da musicalidade regional, que nos encantavam tornando-nos parte desse cenário de música e dança. Nosso grupo se entranhava por entre os dançarinos que se apresentavam na praça local, dançando e cantando ao luar de Caxias.
De volta ao ônibus, mais cumplicidade, mais poesia, mais gargalhadas. Sim, gargalhadas! Pois tivemos momentos de descontração e lazer. Somos poderosos e poderosas. Somos descontraídos, contadores de causos, piadas, estórias e histórias de vida. E foi com essa simplicidade que chegamos à cidade de Guimarães. Cidade simples, de gente acolhedora, calorosa e alegre. Mais comemorações. Estamos cumprindo a última etapa da programação do projeto “Mil Poemas para Gonçalves Dias”.

“Não sei se todos os dias são assim
       Guimarães dorme.
            Repousa.
                  Descansa.
 E nós, acostumados à rotina dos grandes centros,
      Ficamos a contemplar,
           A lua que crescia no céu de Guimarães.
                 Na sua praça central.
          Para nós, normal.
Enquanto sua gente dormia, acalentando corações.”

Não vi sinais de falta de segurança, intranquilidade ou violência. Aqui percebi que a família ainda conserva seus valores. Seus alunos e jovens não tem vergonha de representar sua gente, sua tradição, sua história, sua cultura. Parabéns Guimarães.
Amanheceu. Seguimos para o local aonde Gonçalves Dias veio a falecer (se encantou) no naufrágio do navio “Ville de Boulogue” em Atins, na baía de Cumã, costa de Guimarães.
“190 anos de História
    Contada por gente singular,
        Única, simples, glamorosa.
            190 anos gonçalvino de vida valorosa.
                Na terra ou no mar
                    Em versos e prosa
                         Guimarães nos faz reviver e recordar.”

Estamos chegando ao final da agenda desse maravilhoso projeto. Aprendi que somos todos importantes, preciosos. Cada um com seu exemplo, sua história, seu testemunho.
Os meus poemas: “Linhas e Entrelinhas”; “Mil Poemas para Gonçalves Dias”; “A Terra onde Nasci”; “Poemas Gonçalvino”; “Aplausos” – incluído na Analogia, me presenteou com a “Comenda Gonçalves Dias” e o título de “Tupy de Caxias” (em Caxias, Ma.). Também me rendeu a grande experiência literária, por ser mais uma tripulante dessa “Arca”.
O Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão – IHGM; a Federação das Academias de Letras do Maranhão – FALMA; a Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão e do Brasil – SCLM/SCLB; a Academia Caxiense de Letras; a Prefeitura e Câmara de Vereadores de Guimarães; os demais parceiros: todos foram muito competentes e felizes ao adentrar nesta “Arca” e realizar um projeto de tamanha grandeza.
Aproveito para, neste depoimento agradecer a oportunidade e o privilégio de participar desta “Arca Gonçalvina”, conhecer pessoas tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais quando o tema é arte e poesia.
Agradeço a Deus, sempre. Por tudo que acontece na minha vida. Agradeço a escritora professora Dilercy Adler, o escritor professor Leopoldo Vaz, pois foram incansáveis na realização desse trabalho belíssimo, para que todos nós, poetas, escritores e artistas pudéssemos sonhar o mesmo sonho e com ele viver esta fantástica realidade, até então inexplorável no Brasil e no Maranhão/Caxias, que foi o projeto “Mil Poemas pra Gonçalves Dias”. Essa justa homenagem ao poeta único: Gonçalves Dias.
Ainda registro aqui o incentivo de meu esposo, Leonidas Pessoa, meus filhos, Hugo, Higo, Junior e Suyanne. Não posso esquecer a saudade de meus netos, Laiza, Amália, Sarah e Guilherme.
Esse depoimento é em homenagem a minha neta recém chegada, que nasceu enquanto viajava nesta caravana, Alana, e que é uma linda menina especial.
Registro também a convivência com todos os companheiros da “Arca de Gonçalves Dias”. Não cito nomes para não cometer esquecimentos, erros, enganos... Mas todos foram importantes nessa grandiosa caravana e na minha vida.
As “obras” de Deus estão dentro de nós. Não importa a formação religiosa, o que realmente importa são as “obras” que construímos e praticamos nessa nossa vida diante do benfeitor maior: DEUS.
Creio eu que, este Projeto foi uma grande “obra” para além de quaisquer questionamentos, todavia cada um de nós deve seguir firme, com o reconhecimento de ter feito o seu melhor e o mérito de sermos personalidades importantes e relevantes e que, ao voltarmos às nossas cidades de origem estaremos divulgando e enaltecendo o poeta Antônio Gonçalves Dias, Caxiense/Maranhense (1.823 – 1.864).
DEUS SEJA LOUVADO!




MARIA DA ASSENÇÃO LOPES PESSOA (1960 - ) – Professora, Licenciada com Especialização em Biologia e Gestão, Supervisão e Planejamento. Escritora, com 05 Poemas na Antologia Mil Poemas para Gonçalves Dias. Filha de Maria da Paz de Meneses Viana e Antonio F. Lopes, Natural de Itapecuru-Mirim, Ma. Tem a cidade de Pirapemas como sua terra de coração. Membro da Academia Itapecuruense de Ciências Letras e Artes – AICLA, Cadeira de nº 13, Patrono: Manfredo Viana (seu bisavô).