sábado, 6 de março de 2021

Resenhas Femininas: A mulher no seio familiar



Resenhas Femininas: A mulher no seio familiar 
08 de março. Dia Internacional da Mulher. 

    Esse texto fala sobre as irmãs itapecuruenses: 
    Maria da Paz Viana de Menezes 
    Consuelo Menezes Pereira
    Maria do Perpétuo Socorro Menezes dos Santos.

    Nos mais diferentes tipos de mulheres, há um ponto de partida em comum entre todas elas: a vontade de ser alguém feliz e realizada. Ser mulher é ser alguém que traz consigo uma essência iluminada. Algo que lhe assegura o Diploma de Doutorado Especial, pois as lutas femininas lhe conferem a maior e melhor Faculdade, a Faculdade da vida. Resenhas Femininas: A mulher no seio familiar, trás a história de vida e superação de 03 mulheres itapecuruenses, as extraordinárias irmãs Maria da Paz, Socorro e Consuelo. Mulheres fortes que fizeram suas escolhas e puderam de certa forma mudar e reescrever suas histórias.


Maria da Paz Viana de Menezes (Nhazinha/Nhá) (24/01/1940-) 


Maria da Paz Viana de Menezes (Nhazinha/Nhá)

    A itapecuruense Maria da Paz é neta de Manfredo e Adalgisa Nogueira Viana, avós maternos, e de Manoel e Maria Vitalina Menezes, avós paternos. Filha de Alfredo e Conceição de Maria Viana de Menezes. É a primogênita de 07 irmãos: Consuelo, Socorro, Alfredo Filho, Ribamar, Irisdalva e Valda. Criada por sua Tia Áurea Helena Nogueira, irmã de Adalgisa, Nhazinha como todos a chamavam, sempre foi uma criança cercada de atenção e cuidados. Aprendeu a arte de bordar à mão, tricotar, fazer renda de bilros, crochê, ponto de cruz. Aprendeu o ofício de alfaiataria na oficina de seu Luís Alfaiate. Chegou a trabalhar pelo ofício e ganhar seus primeiros salários, o que a deixou feliz e livre para alçar outros voos. Costumava representar Maria Madalena, na procissão do Senhor Morto na Sexta-feira da Semana Santa, na Paróquia Nossa Senhora das Dores, cantando e encantando os fiéis da Igreja Católica. Crescendo no meio de muitas crianças na casa onde morava e no seio familiar religioso, Maria da Paz era uma pessoa de fé, obediente aos princípios da família, porém, muito brincalhona e astuta. Iniciou os estudos na Escola Cel. Nogueira da Cruz (nome do proprietário da casa onde moravam, no centro de Itapecuru Mirim, Ma.). A escola funcionava na própria residência de Áurea Nogueira nos salões e varandas da casa e que funcionava também como salões de festas em datas específicas. Depois Nhazinha foi para o Grupo Escolar Gomes de Souza concluindo o ensino primário (hoje, Fundamental). Em 1957 ingressou na Escola Regional Gomes de Sousa, atual Colégio Leonel Amorim, que abria as portas com sua primeira turma de 30 alunas, com o curso de formação em Professora Regional. Interrompendo os estudos na 2º série para casar-se com Antônio Ferreira Lopes, neto e filho adotivo de Luís Lopes e Filomena Susana Lopes, Maria da Paz teve sua primeira filha, Maria da Assenção (Concinha apelido dado por Áurea Helena). Após o nascimento de sua primeira filha, incentivada por sua cunhada Tereza Suzana, decidiu refazer o caminho de volta para continuar os estudos. Foi a primeira aluna casada na Escola Regional, servindo de exemplo para outras senhoras e assim, formou-se em Professora Regional. O casamento durou pouco tempo e Nhazinha foi morar com seus sogros levando a pequenina Concinha. Morou com eles por quase 08 anos, quando se reconciliou de com esposo e voltando a morar juntos como um casal (1968), desta vez no centro urbano de Itapecuru Mirim. Desse novo momento nasceram Áurea Célia, Annette, Jaidete, Antônio Émerson e Rogério. E por adoção e de coração, recebeu Geovan aos 02 anos de idade, filho de Antônio de outro relacionamento. Desta vez o casamento durou 10 anos e novamente se separaram. Nhazinha voltou a estudar, dessa vez na Escola Cônego Albino Campos, concluiu o curso de Magistério, começando a trabalhar em 1983, na Escola João da Silva Rodrigues (antigo Cel. Nogueira) já como professora primária nomeada na rede municipal. Maria da Paz experimentou o sabor de ser funcionária pública, ter sua independência financeira e sentir-se livre como mulher e como pessoa. Então, com muita responsabilidade se dividia entre o trabalho, os filhos e as tarefas domésticas. Foi uma Mãezona, sempre presente, educando com muito zelo e disciplina seus filhos, cuidando para que não se afastassem da escola, pois entendia que era a melhor herança que poderia deixar para eles. Como exemplo, em 2005 ingressa na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) consegue formar-se em Licenciatura - Magistério das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, pelo Núcleo de Educação à Distância, NEAD. Quando concluiu já estava aposentada. Em 2019, aos 79 anos, ingressa no Programa Universidade Aberta Intergeracional (UNABI, UEMA polo Itapecuru Mirim). Hoje Maria da Paz tem o reconhecimento e o respeito dos todos os filhos, da família e dos amigos. Num período em que mulher casada não frequentava escola em Itapecuru Mirim, ela desbravou, foi pioneira, o que oportunizou outras mulheres casadas a seguirem seus passos. Rompeu barreiras sociais e familiares convencionais por ser mulher casada separada e sair em busca de suas conquistas, sempre contando com o apoio de sua cunhada Tereza Suzana, maior incentivadora e da família. Com seu jeito pacato, mas muito alegre, pois era apaixonada por dança e canto (e como gostava de entoar seu canto pela casa!), essa mulher foi abrindo portas e conquistando espaços, um espaço feminino que atualmente todas as mulheres possuem, mas que na sua época foi preciso desbravar com sabedoria e resiliência. Maria da Paz, a nossa Nhazinha teve sucesso sim. Conseguiu crescer nos seus estudos com coragem e vontade vencer, razão pela qual se tornou é essa mulher contemporânea, admirável e singular. Essa mulher é a minha mãe. 



Maria Consuelo Menezes Pereira (09/05/1941-)


     Maria Consuelo Menezes Pereira

    A itapecuruense Consuelo é neta de Manfredo e Adalgisa Viana, avós maternos, e de Manoel e Maria Vitalina Menezes, avós paternos. Filha de Alfredo e Conceição de Maria Viana de Menezes. É a segunda na ordem filial. Irmã de Maria da Paz, Socorro, Alfredo Filho, Ribamar, Irisdalva e Valda. Iniciou seus estudos no Grupo Escolar Gomes de Souza em 1947, estando ausente por alguns anos, para cuidar do lar e dos filhos, só retornando em 1973 quando concluiu o Ensino Fundamental na Escola Mariana Luz. Cursou Magistério no Colégio Côn. Albino Campos. Casou-se aos 16 anos (1957), com Milton Januário Pereira, funcionário da Departamento de Estradas e Rodagens (DER) e Sapateiro. Sua maior trajetória de vida sempre foi a convivência familiar, cuidar da casa e dos filhos, o que fez com zelo e maestria. Mãe de 08 filhos, sendo que 04 veio a óbito ao nascer, momentos difíceis de serem vencidos e Consuelo superou com o apoio de sua família. O nascimento dos filhos Conceição de Maria, Milson, Terezinha e Maria das Dores foram presentes e preencher o coração dessa mãe. Sempre teve uma boa convivência com os irmãos e com seus pais.  Sempre teve o apoio da sua mãe. A frágil aparência de Consuelo revela nela uma mulher forte, perseverante e que tem na sua lida diária a arma do amor e da resiliência. Viúva em 1991, e depois de formada em Professora, Consuelo chegou a exercer a profissão na Escola Manfredo Viana por alguns anos e depois prestou serviços na Casa de Cultura Professor João Silveira, voltando depois a cuidar apenas do lar. Sempre uma mãe exemplar, um modelo de esposa e uma irmã admirável. Todos os irmãos tem por ela um respeito inigualável. Alfredinho a chamava de Cêlo, pedia-lhe a bênção sempre como sinal de apreço e consideração. Atualmente Consuelo, que sempre morou em Itapecuru Mirim,  tem uma vida tranquila, recebendo seus filhos, netos, bisnetos, sobrinhos, irmãos, amigos e cunhados em sua casa, onde sempre vai exercer o papel de grande líder e grande mãe. Essa mulher notável é minha tia.




Maria do Perpétuo Socorro Menezes dos Santos (13/07/1946-)
ao lado de sua sobrinha-afilhada Sarah Louise



 Maria do Perpétuo Socorro Menezes dos Santos

    A itapecuruense Socorro Menezes é neta de Manfredo e Adalgisa Viana, avós maternos, e de Manoel e Maria Vitalina Menezes, avós paternos. Filha de Alfredo e Conceição de Maria Viana de Menezes. Dos 07 irmãos ela é a 3ª filha. Seus irmãos Maria da Paz. Consuelo, Socorro, Alfredo Filho, Ribamar, Irisdalva e Valda. Aos cinco anos de idade já iniciou os estudos no Grupo Escolar Gomes de Souza, concluindo o curso fundamental (antigo ginásio) e o curso Normal (Magistério) no Colégio Leonel Amorim, formando-se em Professora. Aos 25 anos (1971) ingressou no mercado de trabalho lecionando em uma escola de Ensino Primário (Fundamental menor) na cidade de Matões, nesse período, município de Cantanhede, MA, onde residiu por 08 anos, morando com a família Aragão. Desde então já ajudava no sustento da sua família, sua mãe e seus irmãos. Transferida para Itapecuru Mirim, MA, trabalhou por um período de cinco meses, sendo novamente transferida para São Luís, a capital do Estado. Já morando em São Luís, por volta de  1979/1980, exercendo a profissão de professora na escola Alfredo de Assis, no Bairro Camboa. Nesse intervalo de cinco meses, surge o concurso da Rede Ferroviária Federal (REFESA). Socorro Menezes aproveitando da oportunidade logo se inscreveu. Faz o concurso e foi aprovada em Primeiro Lugar. Não pensou duas vezes, quando foi chamada pela Empresa para assumir uma função no setor de Contabilidade, deixou as salas de aula e foi realizar mais esse desafio. Como não tinha o curso de Contabilidade, imediatamente procurou voltar às salas de aula, desta vez como aluna e se formou em Técnico Contabilidade e  Técnico em Administração. Assim que concluiu os cursos, fez concursos internos dentro de Empresa e foi recolocada como Técnica de Contabilidade. Cresceu dentro da Empresa, viajou por vários lugares como Teresina, Rio de Janeiro e Recife a serviço da profissão,  nesta última, onde ficou por dois anos. Sempre uma pessoa irrepreensível, Socorro foi dessas que soube aproveitar todas as portas que se abriam para ele. Não foi fácil buscar o crescimento profissional, mas o estudo lhe proporcionou suas escolhas. Foi o sucesso esperado por todos, o resultado de uma vida dedicada aos estudos e ao trabalho. Socorro passou a ajudar melhor sua mãe, o que já fazia desde quando começou a trabalhar, ofertando uma vida de tranquilidade para dona Concita. Ao retornar para São Luís, a Empresa lhe promoveu a chefe da Contabilidade da REFESA, a qual permaneceu por um período de seis anos, quando se aposentou. Socorro casou-se aos 33 anos no dia 08 de março de 1980 com um colega de profissão, uma relação que durou dois anos, encerrando com a separação, consequentemente o divórcio. Mulher negra, pobre, vindo do Interior de Estado, Socorro conquistou o reconhecimento profissional e o respeito de todos os profissionais da REFESA naquele período. Socorro não teve filhos, no entanto abraçou os sobrinhos e afilhados, sempre presente, junto à família, sua mãe - seu maior exemplo, e seus irmãos. Essa mulher surpreendente, única e especial é minha tia. 


Nhazinha, Consuelo, Socorro e Alfredo Menezes (2019)


    Nesse 08 de março quero dedicar esse especial Resenhas Femininas a essas três vitoriosas que ultrapassaram barreiras se dedicaram a seus sonhos, mesmo que de forma anônima elas foram e são exemplos da força da mulher itapecuruense. Apoderaram-se e se empoderaram num tempo em que a voz feminina era enfraquecida e tombada pelo patriarquismo. 
    
    Dedico a todas as mulheres que mesmo com sua voz calada e no silêncio da sua sabedoria conquistam seus espaços e se deixam transbordar pelo que acreditam ser nobre e assim fazer valer seus direitos. Essas mulheres que amaram e se deixaram amar, que se respeitaram e se deixaram respeitar. A nós Mulheres vencedoras até nos mínimos detalhes de nossa existência feminina. 
    
    Tenhamos todas um consciente 08 de março de 2021.



Itapecuru Mirim, MA. 08 de março de 2021.
Assenção Pessoa.


REGISTROS DE ALGUNS MOMENTOS EM FAMÍLIA


Nhazinha e Consuelo

Nhazinha, Socorro, Sarah e Sheila

Socorro entre suas afilhadas Sheila Cristina e Sarah Louise

Formatura de Nhazinha com uma amiga




Nhazinha e Consuelo

Nhazinha e Socorro

Nhazinha e sua irmã Valda

Os irmãos Nhazinha, Consuelo, Socorro, Ribamar e Valda

Nhazinha com os filhos: Émerson, Rogério, Concinha, Áurea, Annette e Jair 

Assenção, Socorro, Consuelo, Nhazinha e Terezinha (filha de Consuelo)









Maria da Assenção Lopes Pessoa. Professora, Bióloga, escritora e poeta. 
Membro da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes, AICLA e da Sociedade Cultura Latina do Maranhão - SCLMA, e membro correspondente
 da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes - AVLA.
















quinta-feira, 4 de março de 2021

Resenhas femininas: que essas mulheres têm em comum?

 

        Resenhas Femininas: o que essas mulheres têm em comum?

    Edição Especial 08 de março - Dia Internacional da Mulher

    O texto dialoga sobre Filomena Suzana Lopes, Conceição de Maria Viana de Menezes e Maria Mesquita Pessoa buscando os pontos convergentes entre elas.


Filomena Suzana Lopes (11/08./1912 - 24/07/1996).


Filomena Suzana Lopes  

         84 anos vividos. De sua infância e de sua juventude não tenho propriedade para falar, mas da mulher branca, estatura mediana, adulta, mãe, avó, bisavó, essa sim, dessa mulher tenho algo para dizer. Era filha única de família abastarda, a família Matos. Analfabeta, por que a vida não lhe deu oportunidades para estudar, no entanto, foi uma grande mulher de negócios, microempresária e uma exemplar dona de casa. Casada com paraibano Luís Lopes de Mendonça, que veio para trabalhar na Estrada de Ferro São Luís-Teresina, Filomena era mãe biológica de Benedita Susana Lopes de Araújo e Tereza Suzana Lopes Baldez. Foi avó e mãe adotiva de Antônio Ferreira Lopes, Tusca que era neto legítimo apenas de seu Luís Lopes. Dona Filomena como era conhecida, morou no Bairro Trizidela, ao lado da estação de trem, Itapecuru Mirim/MA. Acolheu em sua casa a sua nora Maria da Paz quando essa se separou do Tusca, e sua filha, a bisneta Assenção, que todos a chamavam de Concinha. Maria da Paz tinha tratamento de Filha. Sempre bem disposta contribuiu com o esposo na renda financeira da família e na educação dos filhos. Com um pequeno restaurante, servia refeições aos trabalhadores da Rede Ferroviária Federal que tinham parada obrigatória na estação de trem, dar plantões ou passar a semana no exercício da sua função hospedado na própria estação. Também atendia aos viajantes dos trens que passavam todos os dias pela Trizidela. Sua residência era sempre muito bem frequentada e as pessoas se tornavam amigas da família, pois dona Filomena sempre tinha um prato de comida aos pobres e necessitados, era uma criatura bondosa.  Filomena Suzana criou e educou suas filhas e seu bisneto de forma correta, humilde, mas com muita sabedoria. Era rigorosa por que a educação familiar da época exigia rigor e disciplina para educar os filhos. Dona Filomena aprendeu ainda muito jovem a quebrar com machado o coco babaçu, cuidar de roça e plantações de verduras apenas para o consumo de sua cozinha. Socava o arroz no pilão, debulhava o feijão, era uma cozinheira de mão cheia, uma exímia boleira. Uma mulher decidida, forte apesar da aparência frágil. Filomena era símbolo de vigor, da luta diária por dias melhores, era uma batalhadora. Filomena Suzana era uma mulher de fibra. Tinha o pleno domínio dos números e das contas, ninguém a enganava. mesmo sem ser contadora, dona Filomena era extraordinária na contabilidade dos negócios da família. Pois além do restaurante, o casal tinha um comércio de secos e molhados ao lado da residência e também negociavam carnes bovinas, suínas, galináceos e bodes. Tinham uma vida bem dinâmica nos negócios. Minha bisavó paterna da qual tenho orgulho em dizer, era uma pessoa extraordinária. Gostava de contar estórias de animais para mim (o engraçado é que eram sempre as mesmas estórias, mas eu gostava de ouvi-las). Samena, como eu a chamava, era uma mulher decidida, nunca se deixou abater pelo desânimo, era uma pessoa distinta e respeitada pelos moradores e visitantes do bairro. Era uma itapecuruense guerreira!



Conceição de Maria Viana de Menezes (26.06/1915 - 07/01/2003) 


   Conceição de Maria Viana de Menezes 

        88 anos vividos. Mulher negra de olhos claros, estatura baixa, dona Concita como todas a chamavam, tinha uma personalidade forte. Filha de Manfredo Viana e Adalgisa Nogueira Viana. Vinha de um família de sete irmãos: Robispierre, Expedito, Maria José, Ribamar, Aurino e Donatila. Ainda jovem, foi levada para São Luís/MA para estudar Enfermagem, um curso promissor na época. Concita se formou enfermeira para agradar seus pais, mas o que ela gostava mesmo era de dar aulas. Acabou sendo professora. Casada com Alfredo Menezes, jovem cearense com profissão de carpinteiro, marceneiro e músico, com o qual teve sete filhos: Maria da Paz Nhazinha, Consuelo, Socorro, Alfredo Filho, Ribamar, Irisdalva e Valda. A vida de casada foi cheia de desfechos, ora bons momentos, ora, maus, mas Concita foi vencendo os desafios um a um. Tendo que mudar-se com certa frequência para vários povoados de Itapecuru Mirim, para acompanhar o marido e ao mesmo tempo driblar a falta de dinheiro, dona Concita fez de tudo um pouco, trabalhou na lavoura, criação de animais domésticos, foi parteira e professora. A família Menezes ainda foi morar num lugarejo chamado Livramento, município de Peritoró, depois Sítio Novo do Grajaú e Cantanhede, até retornar novamente para Itapecuru Mirim. Exerceu a profissão de professora no período de 1951 a 1956 nos povoados Jundiaí (Itapiracó),  Filipa e Caixa D'água. Após tantos recomeços, Conceição de Maria decide separa-se de seu Alfredo já com os filhos todos adultos, e ele vai morar em São Luís/Ma. Ela permanece ainda por um tempo em Itapecuru Mirim, mas acaba indo morar também em São Luís com os filhos Socorro e Alfredinho que já  trabalhavam. Foi um período bem difícil, morando num bairro sem infraestrutura, dona Concita teve que segurar mais essa barra para da suporte aos filhos. Não podia demonstrar fraqueza. Nunca demonstrou! Sempre foi uma mãe presente, nos momentos alegres e tristes, nas horas difíceis e nos sucessos. Sempre deu apoio aos filhos e aos netos que procuravam sua residência para morar, estudar e trabalhar. Anos depois, os filhos puderam lhe ofertar uma boa moradia no Bairro da Liberdade, de onde só saiu quando partiu para a morada do Pai celestial. Mãedindinha como nós, netos, a chamávamos era uma pessoa educada, gostava de brincar de bonecas, ainda lembro dela fazendo roupinhas de bonecas, gostava de fazer trabalhos artesanais com as sobras de tecidos, tipo lençóis, colchas, cortinas, toalhas de mesa usando taco, tiras ou cochichos. Também usava o tempo para fazer palavras cruzadas. Ainda em Itapecuru Mirim lembro de Mãdindinha lendo estórias par mim, de reis, rainhas, fadas, bruxas, estórias dos Irmãos Grimm. Nossa avó foi uma vencedora. Nossa avó foi uma mulher guerreira, não teve medo, foi forte, consciente da sua força feminina. A itapecuruense Conceição de Maria foi símbolo de resistência.




Maria Mesquita Pessoa (09/02/1924 - 13/04/2016)


Maria Mesquita Pessoa 

92 anos vividos. Vargem-grandense, a bela morena de estatura mediana, Maria Mesquita conheceu e casou-se com o piauiense Leonidas Rodolfo Pessoa. Morando em Pirapemas o casal passou por muitos momentos difíceis. Leonidas era marchante e negociante de gado bovino. Dona Maria, uma mulher do lar, alfabetizada e muito querida por todos. Aos poucos a renda da família foi melhorando, dona Maria cuidava basicamente da educação dos filhos e da casa. Sempre com muita disciplina procurou educar os filhos José, Antônio, Edmar, Edmilson, Miguel, Antônia, Leonidas, Raimundo e Edvan. Era muito rígida quando se tratava  da escola e do caráter de cada filho. Não admitia desobediência e nem desavenças entre os irmãos. Maria Mesquita foi a esposa, a mãe, a pessoa que contribuía com o crescimento popular de seu esposo, o Leondão. Pois ao entrar para a política, chegou ser vereador na pequena Pirapemas, mas também a perder algumas campanhas eleitorais para prefeito. Numa delas tiveram que ir morar no povoado Forquilha e lá dona Maria juntamente com os filhos tiveram que viver da criação de animais domésticos, do extrativismo do babaçu e da roça de toco.  Foi aí que se revelou a mulher forte, aguerrida que enquanto seu esposo estava em viagem no comércio do gado, ela cuidava dos negócios do lar. Com seu empenho, Maria fazia valer cada etapa vencida enquanto esteve no interior de Pirapemas vivendo de forma humilde, mas sem perder a ternura. Sempre ao lado do marido, e com a vida financeira novamente estável, voltaram a morar no centro urbano de Pirapemas, em seguida mudando-se para Itapecuru Mirim, MA, onde tiveram êxito nos negócios. Os filhos tiveram a oportunidade de concluir os estudos em Itapecuru e na capital São Luís. Novamente, Leondão foi levado pelo desejo político de ser prefeito, desta vez eleito (1983 - 1988), voltaram a residir em Pirapemas. Maria Mesquita foi a primeira Dama mais simples e popular que o município já teve. Sem ambições ela ajudou o marido a ser o melhor prefeito na história de Pirapemas. Maria Mesquita Pessoa uma mulher guerreira, batalhadora e sábia. Sua casa era bem frequentada, a mesa das refeições tinha sempre muitas pessoas à sua volta. Todos que procuravam abrigo e alimento na sua residência eram sempre bem atendidos. Dona Maria cuidava das pessoas como se fossem de sua família. Como mãe, avó e sogra foi um exemplo, um coquetel de resiliência, coragem, autocontrole e lealdade. Mesmo sem saber, essa mulher teve uma inteligência emocional e uma capacidade incrível de conviver com o diferente amando e respeitando o próximo sempre.


        O que essas mulheres têm em comum? 

        O ponto positivo em comum que une essas três mulheres, Filomena Suzana, Conceição de Maria e Maria Mesquita, foi que ao enfrentar uma sociedade patriarcal, machista com paciência, coragem e sensibilidade, elas conquistaram o respeito e a admiração de toda a família, amigos e sociedade onde moraram rompendo limites e se realizando naquilo que sabiam fazer com maestria: ser mãe tomando conta dos filhos; ser dona do Lar, administrando ou realizando as tarefas da casa; serem boas esposas, sendo compreensivas e companheiras; serem trabalhadoras do lar ou autônomas, lidando com as adversidades que surgiam ao longo suas trajetórias de vidas. A capacidade de superar o insuperável, de vencer o invencível por que essas mulheres independentes da sua posição social, do seu grau de instrução ou da sua raça, essas mulheres foram MULHERES GUERREIRAS superando barreiras e deixando um exemplo a ser seguido.

        Que nesse dia 08 de março de 2021 possamos refletir sobre as grandes mulheres que fizeram história nos movimentos, mas principalmente sobre as mulheres anônimas que fizeram da sua história, uma história de vida na simplicidade e no amor incondicional. Gratidão pela existência dessas três mulheres na minha vida. Filomena Suzana e Conceição de Maria, minhas avós, e Maria Mesquita, minha sogra, uma segunda mãe.

Itapecuru Mirim, MA. 08 de março de 2021.

Maria da Assenção Lopes Pessoa


REGISTROS DE MOMENTOS EM FAMÍLIA:


Filomena Suzana com  filhos e parentes (1980) 

Dona Concita com netos e bisnetos (1984)


Dona Concita com os filhos Alfredo, Socorro, Ribamar
e Vania (nora) (2000)
 



Maria Mesquita com filhos e netos (2005)



Maria Mesquita com filhos, Leonidas, Antônio, Edmar, Edvan, Edmilson,
Antônia (sentada) e Maria (em pé, filha adotiva) (2005)








Assenção Pessoa, Itapecuruense, professora, Bióloga, Esp. em Gestão, Supervisão e Planejamento Educacional. Escritora, poeta, membro da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes - AICLA e da Sociedade Cultura Latina do Maranhão - SCLMA, e membro correspondente da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes - AVLA.