terça-feira, 28 de julho de 2020
segunda-feira, 20 de julho de 2020
Itapecuru Mirim, Maranhão. O sesquicentenário na Pandemia
Itapecuru
Mirim, Maranhão
O
sesquicentenário na Pandemia
Assenção Pessoa
Resto da construção do antigo cais da rampa Wady Fiquene |
Antigas tribos que vilas povoam
vem o homem branco adentram e
roubam
a alma ingênua do caboclo crioulo.
Os contos e lendas à noite
amedrontam
as moças donzelas
com seus cabelos de fios de ouro.
E assim viram história.
Eterna memória.
Da negra mulata que rompe
barreiras.
É dança, é jogo, é cidade, é
fogo...
É Itapecuru Mirim, cidade ribeira.
Como não lembrar que somos um povo de histórias e
culturas miscigenadas no passado e compiladas nesse presente de amarga
Pandemia! Porém, somos um povo guerreiro, ávido e com herança genética de força
e poder. Força, para superar limites; poder, para embasar nossas lutas e
vitórias sempre que somos testados. E, com toda intensidade desejamos nos livrar
logo desse inimigo, o COVID-19, para que num futuro bem próximo possa ser
apenas uma triste e saudosa lembrança dos entes queridos que perdemos e da
demonstração dessa força e desse poder na avidez e na superação dos nossos obstáculos.
Hoje, quero discorrer sobre o passado glorioso que em
transe, voltamos um pouco mais, quando da chegada dos portugueses ao Brasil em
1500 e da existência dos grandes proprietários, por direito, desta terra tão
explorada e tão amada, que são os indígenas das mais diversas tribos da nação.
No Maranhão eis que surge a chegada dos primeiros povos portugueses, os
açorianos, ainda por volta de 1612, quando muitos deles se espalharam por toda
a ribeira do Itapecuru, o rio de promessas de vida farta, por suas entranhas
nas matas, por seus riachos, igarapés, nascentes que propicia o cultivo da
lavoura e a criação de animais domesticados. Registra-me na minha memória, das
aulas de História que por volta de 1622, os primeiros movimentos para o surgimento
de vilas e arraiais por estas redondezas, foi o grandioso projeto de construção
de engenhos para moer cana-de-açúcar. Antemão, falando especificamente dessa
região onde hoje é a cidade de Itapecuru Mirim, em que a fixação dos açorianos
portugueses não foram bem-vindos aos olhos dos Tapuias Urutis, que viviam no
Morro do Diogo e outras tribos espalhadas por toda região do Itapecuru, mata adentro.
Assim, os portugueses na tentativa de escravizá-los ou dominá-los criou uma
situação de conflitos constantes, dificultando e até mesmo tornando impossível a
convivência, ocasionaram na consequente redução, até a dizimação dos índios por
completo. No entanto, coube a nós herdarmos um pouco da sua cultura como o
cultivo da terra, o hábito de se alimentar com batatas, fazer chás, rezas e
outras beberagens pra curar o corpo e o espírito.
Apesar de pouco se conhecer dessa cultura açoriana em
Itapecuru Mirim, pois os traços hoje praticamente inexistem, ainda podemos
contar com a tradição das casas de farinha, nos moldes dos engenhos desse povo,
os costumes, a culinária, as crenças, os bailados, as lendas, os ritos, o jeito
de falar e a alma alegre incorporada à nossa cultura, como, por exemplo, as
Festas do Divino Espírito Santo.
“Quem canta, seus males espantam”, nossas raízes
fragmentadas na herança do Brasil e do Maranhão. Após a luta pela terra, em
1649, surgem os primeiros indícios de uma colonização, com os novos ocupantes
formando um vilarejo, num processo lento, onde os colonos se localizaram numa
parte das terras que eles a denominaram de “Arraial”, e, mais tarde, “Feira”,
há 01 quilômetro do rio Itapecuru.
Acometidos pela epidemia de Varíola que assolava o
Maranhão (1788), começava outra luta, a luta pela vida para os moradores da
Feira. E em 1789, mais uma derrota, período em que uma grande enchente no rio
Itapecuru atingiu uma extensão de 12 quilômetros, expulsando os moradores e
destruindo habitações. Fatos que atrasaram ainda mais o progresso da localidade
“Feira” e que amargou por 12 anos até a criação da “Freguesia do Itapecuru”,
sob a invocação de Nossa Senhora das Dores. E, somente 14 de junho de 1871 é que
sai o Decreto para a criação da tão sonhada “Vila de Itapecuru Mirim”, o que
ocorreu em 20 de outubro de 1818, sob o auspício do Alcaide-Mor José Gonçalves
da Silva, ficando nesta data o reconhecimento oficial da “Vila” e do seu
desmembramento da cidade de São Luís e que teve seu apogeu de 1818 a 1880. E
como consequência do crescimento da “Vila”, a caracterização do município que se
deu em 21 de julho de 1870, com sua elevação a cidade e território, sendo
criado o município do mesmo nome, Itapecuru Mirim.
Itapecuru Mirim que já teve seu rio chamado de “Jardim do
Maranhão que outrora vivera”, em razão da colonização portuguesa, como toda a
província do Maranhão tem na Igreja Católica Apostólica Romana, ponto mais
relevante, na sua formação histórica, social e religiosa. A Capela Nossa
Senhora do Rosário dos Pretos foi o primeiro marco ainda na formação da
Freguesia, hoje Nossa Senhora das Dores cuja sede atual teve sua pedra
fundamental lançada em 1841, quando da passagem do Coronel Luís Alves de Lima e
Silva, o Duque de Caxias pela então Vila de Itapecuru Mirim.
Embora Itapecuru tenha uma rica história existe apenas
uma única data a ser comemorada, 21 de julho, que é seu “status de cidade”,
ficando inúmeras outras tão importantes para o município, como, por exemplo,
sua emancipação política no ato da criação da Vila, 20 de outubro, este ano de
2020, completando 202 anos. Ainda num grande empreendimento para o Brasil,
pode-se citar o ato da Junta Governativa Provisória constituída em Itapecuru
Mirim, a cidade rebelde, em declarar adesão à Independência do Brasil somente em
20 de julho de 1823, uma semana após o Maranhão aderir. A Batalha do Jenipapo
(1823) quando Itapecuru foi rendido e pedido à reintegração de posse da Vila
por Salvador Cardoso de Oliveira, chefe geral dos independentes. O grande nome
nessa parte da história de Itapecuru Mirim foi o tenente-coronel José Felix
Pereira de Burgos, o Barão de Itapecuru Mirim, por seus serviços prestados pela
causa da Independência do Brasil.
Itapecuru Mirim ainda se vê envolvida, enredada, ao se
render por pequenas guerrilhas e conflitos como a Guerra dos Três Bês (1823),
cujo objetivo era defender a hegemonia política do Maranhão, e a Setembrada
(1831), um movimento da província de Maranhão em que Itapecuru Mirim teve importante
participação, cuja reivindicação era a expulsão dos oficiais portugueses e a
demissão de todos os funcionários que não fossem brasileiros do quadro da
Fazenda e da Justiça do Maranhão, ambos, movimentos pós-independência.
E o que dizer da Balaiada (1838 - 1840) em Itapecuru
Mirim? Um dos maiores conflitos ocorrido no Brasil, com o Maranhão sendo palco
de Insurreição, e que acabou por envolver uma cidade pacata num emaranhado de
lutas populares em consequência da grave crise econômica causada pela queda do
algodão, o aumento da miséria e o abuso dos poderes em detrimento dos menos
favorecidos, negros e pobres. Foi em Itapecuru Mirim, que o cearense Cosme
Bento das Chagas, o Negro Cosme se incorporou à Balaiada e lutou junto com os
Balaios, e quando da rendição dos mesmos, ao ser capturado, ficou preso na
Cadeira Pública e foi enforcado em 29 de setembro de 1842, como o criminoso
mais bárbaro desta guerra, na Praça do Pelourinho (construído em 1818), onde
hoje é a Praça do Mercado.
Desde a colonização do Maranhão, suas lutas e suas
vitórias, há um pedacinho dessa Itapecuru Mirim, uma cidade com quase 70 mil
habitantes, há 112 Km da capital São Luís. Décima oitava maior cidade do
Estado, o valor de sua história, hoje de grandeza sesquicentenária, esta terra
tão precisa, tão altiva, tem um povo que lhe confere grandeza e tamanha beleza
merecendo o reconhecimento do Brasil e do Maranhão conferindo-lhe menções e
honrarias de agradecimento aos itapecuruenses por sua valiosa contribuição na
formação histórica desse País e desse Estado.
Do fascínio do teu rio, herdamos a tua fonte de vida, o
teu povo, os imortais destemidos, a riqueza em memória como o Matemático
Joaquim Gomes de Sousa. Aqui se tem o ideal da literatura, referências aos
nossos estudantes e pesquisadores. Como exemplo, podemos citar o Jornalista
João Francisco Lisboa, o poeta Juvenal Nascimento Araújo, o médico escritor
Henrique Leal, a escritora e professora Mariana Gonçalves da Luz, o professor
João da Cruz Silveira.
Seus talentos discorrem pela história, pela literatura,
pela política e religiosidade, pelo folclore e pela cultura, pelas artes e pela
ciência. São os filhos de Itapecuru Mirim, maranhenses brasileiros que nos
enchem de orgulho. Ainda registro o professor Leonel Amorim, o Cônego Albino
Campos, Luiz Gonzaga Bandeira de Melo, Benedito Bráulio Mendes, Manfredo Viana,
Zuzu Nahuz e os novos representantes como os Pesquisadores Tiago Oliveira e
Jucey Santana, os escritores Samira Fonseca, Inaldo Lisboa, os Jornalistas
Benedito Bogéa Buzar, Gonçalo Amador Nonato, Brenno Bezerra, Alberto Junior e
Alfredo Menezes, o protagonista do esporte amador das rádios e jornais de São
Luís, Maranhão e que foi vencido pelo COVID-19 aos 72 anos, no último dia 27 de
abril de 2020, deixando um importante legado aos maranhenses do esporte e da
vida.
Na música, nos referencia os maestros, Joaquim Araújo,
Sebastião Pinto, Gonçalves Martins, Álvaro Nascimento, José Bandeira, e os contemporâneos,
José Santana, Carlos Magno Silva, além dos imortais que já estão nos registros da
história e as promessas de novos talentos na musicalidade itapecuruense.
A esta terra a qual me refiro carregada de tantas
expressões, encontramos no seio da cultura popular Maria Sampaio, Josivaldo
Rodrigues (JR), mestre Bertulino Campos, Moaciene Monteiro, nas artes, os
artistas plásticos Beto Diniz, Alex Muniz, Ailson Lopes, Vaguinho e tantos
outros.
Na ciência e na medicina, o doutor Tarcísio Mota Coelho merece
especial destaque, um ser humano inconfundível, pois nunca esquece sua gente.
Lembramos também de Curtius Carneiro e Fernando Wellington Costa.
Como não nos lembrarmos do Desembargador Públio Bandeira
de Melo, itapecuruense que teve importante contribuição ao Judiciário do
Maranhão.
Recordo-me de dois grandes nomes do perfil político de
Itapecuru, Bernardo Thiago de Matos e João da Silva Rodrigues.
Carrego minhas homenagens a Itapecuru Mirim de seus
ilustres anônimos, trabalhadores e trabalhadoras que fazem a roda da economia
girar, o povo cantar e o pão na mesa nunca faltar. A essa Itapecuru Mirim de
150 anos apenas de cidade e 202 anos de emancipação política, sem contar seus
anos primórdios. Rendo-me ainda às quebradeiras de coco, os carroceiros,
pescadores, lavradores, artesãos, muitos que estão na informalidade e muitos itapecuruenses
que apaixonados como eu, vão driblar e vencer a assombrosa pandemia do Novo
Coronavírus, o COVID-19 que assola o país com quase dois milhões de casos e
mais de setenta e cinco mil mortos, mas que também nos fez retomar modos de
ouvir, de sentir, de ver e rever nossos conceitos e comportamentos em relação a
nós mesmo e ao outro.
Cidade tropical,
onde é sol o ano inteiro, de relevo modesto, onde os ventos que sopram seus
cocais trazem alívio ao calor e o frescor da brisa que sobre a influência do
mar, afronta o rio abaixo nos proporcionando prazer, elegância e frescor. Frescor
que também vem da sua Lua Cheia que irradia a noite dos que ainda apreciam a
beleza natural, ao se debruçar sobre a luz do luar nas águas de teu rio, o rio
Itapecuru, em esplendor a bailar, ou no botão de uma flor a despertar. Parabéns
Itapecuru Mirim por seu tricinquentenário!
Exaltando minha cidade
Oh!
Minha cidade, este recanto bendito!
Tens
poesia, tens história
um
rio de vitórias, festivas memórias,
tens
encantos na tua alegria!
Sesquicentenária,
seus antepassados
lembranças
e lutas que não tem idade.
Hoje
eu só quero te enaltecer
e
dizer o quanto me orgulho de ti.
Quero
ouvir teus pássaros, tambores divinos
a
perambular entoando sonhos,
evocar
teus santos, mistérios e lendas
mergulhar
no rio, lembrar teu passado.
Quero
senti a brisa, à noite ao luar.
Casais
enamorados, beijos a roubar.
Não
existe igual Itapecuru
Itapecuru
Mirim, não existe igual.
Referências:
Pessoa,
Maria da Assenção Lopes. Itapecuru Mirim,
sua gente, sua história. Ed Nelpa, São Paulo-SP. 2015.
Santana, Jucey. Itapecuruenses Notáveis. Gráfica 360°, São Luís, MA. 2016.
Maria da Assenção Lopes
Pessoa.
Itapecuruense, Professora Licenciada em Ciências
com especialização em Biologia, e em Gestão, Supervisão e Planejamento
Educacional. Escritora, poeta, pesquisadora, membro fundadora da Academia
Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA, membro efetivo da Sociedade
de Cultura Latina do Estado do Maranhão - SCLMA.
terça-feira, 14 de julho de 2020
A SERPENTE DE ITAPECURU MIRIM POR SEUS 150 ANOS
PEÇA TEATRAL COREOGRAFADA E MUSICADA ESCRITA EM 2010
(TEXTO DE ASSENÇÃO PESSOA)
A
lenda da Serpente
EM HOMENAGEM AOS 150 ANOS DE ELEVAÇÃO À CATEGORIA DE CIDADE: ITAPECURU MIRIM
SINOPSE: Peça teatral baseada
na lenda da Serpente de Itapecuru Mirim. Textos e Poesias de Assenção Pessoa. A
peça trata-se da estória de uma mulher que ao dar a luz a uma criança, jogou-a
no Rio Itapecuru e a criança se encantou, transformando-se numa figura
diabólica: uma enorme serpente. O contexto temporal é baseado nas estórias que
seus avós contavam e retrata os tempos do vilarejo chamado Arraial, depois, Feira,
por volta de 1801, hoje a bela cidade de Itapecuru Mirim.
OS PERSONAGENS SÃO
FICTÍCIOS, APENAS PARA DAR VIDA E FORMA À LENDA QUE TAMBÉM EM PARTE É FICTÍCIA.
amazoniadeaaz.com.br |
A Serpente de Itapecuru
1º ATO:
CENÁRIO
PRINCIPAL:
Paisagem ao fundo: FLORESTA E RIO. CAMINHO DE PEDRAS E UMA ÁRVORE. EM BAIXO DA
ÁRVORE UMA PEDRA (COM PORÇÃO DE AREIA) PARA QUE O CASAL VIVA SEUS SONHOS
SENTADOS OU DEITADOS.
NARRADOR
NÃO APARECE NAS CENAS. APENAS EMPRESTA SUA VOZ, COM ENTONAÇÃO, EMOÇÃO E PERSUASÃO.
SONS
DE ÁGUA CORRENDO, QUEBRANDO COLINAS. VENTOS SUAVES.
NARRADOR:
─
Era nos tempos da formação da Vila chamada Feira. Duas famílias: uma: dona de
um engenho, descendentes de luso-açorianos portugueses. Outra: gente simples
descendentes da mistura de índios com brancos portugueses. Trabalhavam na
lavoura. Ambas as famílias eram fervorosamente católicos.
─
Era uma linda tarde de outono. O sol ainda brilhava no horizonte. Um casal
apaixonados estavam ali a admirar as águas do rio a passar.
Ouvia-se
quebrando o silêncio daquelas águas turvas a deslizar em seu leito, o canto dos
pássaros e o vento nas folhagens, com que por encanto provocava seu canto
naquelas paragens.
LUÍS
– Minha amada, no que estás a pensar? Vejo-te tão linda! Parece uma miragem
refletida nestas águas.
POTYRA
– Oh, Meu querido! Estou a pensar: como vamos falar de nós dois para nossos
pais? Não podemos continuar a nos encontrar assim, sempre às escondidas.
LUÍS
– Concordo. Mas agora só me abrace e deixe que nossos corpos se amem apenas com
o canto dos pássaros como testemunha do nosso amor.
NARRADOR
- E os dois se amaram ali mesmo na relva, no leito do rio. E a cada dia, os
encontros eram mais constantes, fervorosos e apaixonantes.
CENÁRIO
PRINCIPAL
LUÍS
RECITA O POEMA “ETERNO ENQUANTO DURE”
NARRADOR:
─
Passaram-se alguns dias. A caminho do rio uma parada em meio à bela paisagem
debaixo de uma grande árvore, Luís faz a Potyra uma linda declaração de amor em
forma de poesia:
LUÍS
– (pegando a mão de Potyra e acenando):
─
Minha doce Potyra! Fiz este poema para ti. Ouça:
Entre as nuances de uma nota
Regida com maestria
De um grande amor consentido
Regado a um belo concerto
Numa suprema sinfonia
Num bailado ousado, atrevido.
E neste balet natural
Passos calientes, desejo fatal.
Energia que se move...
Entre dois corpos,
Que se amam...
Contentes.
E, depois do amor...
Nenhum desejo contido
Nenhuma palavra esquecida
Nalgum olhar penetrante
Na essência de um corpo excitante,
Nenhum gemido de dor.
E, depois
Do desejo extasiado
As juras e as promessas
De amor eterno ficam no passado
Para os dois:
Na valsa do bem-me-quer
─ O que é para sempre
Nem sempre é.
LUÍS
– Esse amor de que falo, é o meu grande amor que sinto por ti. Ficaste triste?
Pensei em alegrar-te, no entanto, vejo tristeza em teu olhar...
POTYRA
- Por que falas do que é para sempre, nem sempre é? O que está querendo me
dizer por trás destes versos?
LUÍS
– Potyra, não podemos mais nos encontrar. Meus pais vão me mandar para
Portugal. Embarco daqui a 15 dias no
porto em São Luís.
3º ATO:
Narrativa entre os pais de
Luís
CENÁRIO: SALA DE ESTAR DE
UMA CASA DE CLASSE MÉDIA. (CANTO ESQUERDO DO PALCO)
(duas
poltronas e uma mesinha entre as poltronas, um tapete – móveis antigos).
LÚCIA – Meu Senhor, não
podemos consentir este relacionamento de nosso filho com aquela camponesa.
Vamos antecipar sua ida para São Luís, assim evitaremos o pior.
PEDRO – Concordo com a
Senhora. Nosso filho está muito estranho. Tenho medo que ela possa fugir para
ir ter com esta moça.
NARRADOR:
─ Luís teve que abrir mão
desse amor, por que, como era de família abastarda, seus pais não aceitaram
aquela união.
4º ATO:
Narrativa
entre os pais de Potyra.
CENÁRIO: DUAS CADEIRAS SIMPLES DE MADEIRA (móveis
antigos) – CANTO DIREITO DO PALCO
POTY
– Marido? O que vai ser de nossa filha? Parece que vai morrer de tristeza! E
nós o que vai ser de nossas vidas? As pessoas vão nos apontar na vila toda.
JOÃO
– Mulher! Não vou conseguir sair mais de casa! Nossa filha jogou nossa
dignidade na lama.
NARRADOR
─
POTIRA DESCOBRIU QUE ESTAVA GRÁVIDA. AINDA TENTOU FALAR COM SEU AMADO LUÍS, MAS
A FAMÍLIA DO RAPAZ JÁ O TINHA MANDADO PARA A CAPITAL E DE LÁ PARA PORTUGAL.
POTIRA
- Meu Deus! Como vou falar para meus pais? E agora? O que vai ser da minha
vida?
POTY
- Potyra por que está tão triste?
JOÃO
– Fale minha filha? Vou acabar com a vida daquele almofadinha!...
POTIRA
- Não vai adiantar meu pai. Luís já foi embora. Mãe, estou esperando um filho.
NARRADOR
─ Então a jovem, sendo obrigada a esconder sua
gravidez de todos foi com seus pais morar na beira do rio Itapecuru. Seus PAIS
morrera de tanto desgosto, ficando a jovem sozinha no mundo.
5º ATO:
SONS:
CHORO DE CRIANÇA
CENÁRIO
SECUNDÁRIO: BERÇO COM CRIANÇA
NARRADOR
─ Assim que a criança nasceu, a jovem pensou
em dá-la para uma família, mas se arrependeu. Toda vez que a criança ia dormir,
chorava muito com vontade mamar, mas a jovem nunca se levantara à noite para
alimentar a criança. Um dia, não pensou duas vezes, e resolveu jogar a criança
nas águas do rio Itapecuru sem que ninguém soubesse. Com medo que a criança
morresse então a colocou dentro de uma caixa de madeira que flutuava e
colocou-a no leito do rio.
POTIRA
– CRIANÇA CHATA. PARE DE CHORAR.
─
NÃO AGUENTO MAIS. PERDI TUDO. O AMOR DA MINHA VIDA. MEUS PAIS. DESTINO CRUEL.
SAUDADES DOS SONHOS PERDIDOS, AMORES VIVIDOS... OH, LUÍS! POR QUE ME
ABANDONASTES? ONDE ESTÁS? TUAS JURAS DE AMOR, ONDE FICARAM? PERDIDAS NA NOSSA
ÁRVORE NA BEIRA DO RIO. RIO DE ÁGUAS TURVAS QUE CORRE LADEIRA ABAIXO... LEVOU O
MEU AMOR...
POTYRA
─ LEVOU O MEU AMOR... VAI LEVAR TAMBÉM ESSA CRIANÇA.
6º ATO:
CENÁRIO
PRINCIPAL
SERPENTE
NARRADOR
- Como castigo a criança não morreu, pelo contrário, ela se encantou,
transformou-se numa forma diabólica, ou seja, numa enorme serpente de sete
cabeças. Seu tamanho era tão grande, que media mais de 500 metros de
comprimento. Sua peçonha podia matar apenas com uma injetada de sua toxina.
Todos os animais primitivos que habitavam nessa região foram devorados pela
serpente por sua enorme fome devastadora. Como seu corpo era muito grande,
parte dele se perdia na vegetação nativa da região, a ponta da sua calda, a
parte mais frágil misturava-se por entre as matas estendendo-se até o rio.
7º ATO:
CENÁRIO
SECUNDÁRIO: UMA CRUZ DE MADEIRA
Quando
o padre foi celebrar a 1ª missa na vila, ainda ao ar livre, onde hoje é a Praça
da Cruz, e lá reuniu todos os moradores o padre avisa que ao final da
celebração entraria uma criatura, mas que não queria o mal das pessoas. Que
ninguém se assustasse, pois esta criatura só queria encontrar sua mãe.
Quando
a serpente entrou todos ficaram apavorados ao ver aquela figura diabólica. Ao
entrar, começou cheira os pés de todas as mulheres, até encontrar sua mãe.
Potira
estava tanto medo, pois ali ninguém sabia de sua triste história e nem de sua
gravidez. Mas, que a serpente não a
encontrou, pois a mulher fugiu dali e nunca mais se soube notícias dela. Todos
ficaram abalados com o que viram e foram para suas casas com muito medo.
NARRADOR
– Tarde festiva na Vila. 1ª missa. Todos da Comunidade se juntaram arrumara o
altar. Ergueram uma Cruz e a chamaram de Praça da Cruz. Era raro o
acontecimento. Nos dias de grande alegria, as pessoas se arrumavam com sua
melhor vestimenta, cantavam e dançavam. Era a celebração da boa colheita. E
também a celebração da construção da capela, por invocação de N.S. das Dores.
─
No início do sermão o padre revela aos moradores ali presentes:
PADRE
JOSÉ – Senhores, Senhoras, Deus esteja convosco. Mas tenho um aviso. Recebi um
comunicado de que a Serpente vai aparecer ao final desta missa. Por favor, não
temam, o Senhor estará com todos nós. Ela só quer encontrar sua mãe.
POTYRA - Que diabos estão todos a olhar? Vou
embora desse lugar. (E FUGIU DALI E NUNCA MAIS SE OUVIU FALAR DELA. NINGUÉM
NUNCA FICOU SABENDO QUEM ERA A MÃE DA SERPENTE). – somente a expressão do corpo
pelo personagem
NARRADOR – A serpente sumiu na mata. Para alguns
moradores a serpente não morreu, apenas adormeceu com o próprio veneno, pois
picou sua própria cauda, desesperada por não ter encontrado sua mãe. Abriu-se
então uma enorme cratera que a engoliu completamente. Depois de certo tempo
esta cratera se fechou sem deixar vestígios na mata
ÚLTIMO ATO:
Entra
uma a um dos personagens. Dirigem-se à frente do cenário, faz sua fala e volta
dois passos para traz.
Terminada
todas as falas, entra todos os personagens ao palco. Em seguida dão-se as mãos,
caminham dois passos à frente e agradece e saúda o público num gesto habitual
do teatro.
Poema compor a Lenda. Também um grito de alerta e
apelo contra o aborto.
Música de meditação ao fundo.
PADRE
JOSÉ - Muitos dizem que a serpente vive até hoje. Está adormecida. Relatam que
se alguém tirar a imagem de Nossa Senhora das Dores do seu lugar no altar da
igreja, a criatura despertará, a cratera onde está enterrada irá se abrir e a
cidade de Itapecuru-Mirim vai desaparecer.
PEDRO
- Há quem diga que a igreja da vila, hoje N. S. das Dores, foi construída sob
uma parte de sua moradia. Na igreja matriz está o rabo. O corpo passa por baixo
do relógio e suas cabeças em baixo da ponte.
LÚCIA
- Diz ainda a lenda, que apenas uma vez a sua cauda se mexeu, abalando as
paredes da igreja e depois se acomodou caindo novamente em sono profundo. Dizem
que se ela voltar a se mexer a torre da igreja cairá.
JOÃO
– A Lenda da Serpente Itapecuruense cresce no imaginário popular sobre vários
aspectos. Há quem diga que a cabeça da serpente é que está debaixo do altar de
N.S. das Dores, e sua calda na extremidade da ponte sobre o rio. Há quem diga
que a serpente tinha penas uma cabeça. Mas numa coisa todos tem a mesma versão:
A serpente se despertada de seu sono profundo destruirá toda a cidade de
Itapecuru-Mirim lavando-a para sua cratera ou seu túmulo, com queiram chamar.
Pois sua fome será tão grande que nem todos os seios de todas as mães poderão
lhe saciar. Assim devorará todos que pela frente encontrar.
SERPENTE
–
Credo,
Cruz!
Lá
vem a Serpente
Cabeça
de luz
Devorar
toda a gente!
Serpente
da terra
serpente do mar
Atrás da sua mãe
querendo mamar.
Criança
chorando
do ventre arrancadas
assassinadas.
A
cova da serpente
Por toda Vila a cortar
Mortal a assombrar.
Hoje as Avenidas
na cidade construída
sufoca o grito de medo
pelo progresso, pelo enredo
da dor e
das vidas destruídas.
Credo,
Cruz!
Lá
vem a Serpente
Cabeça
de luz
Devorar
toda a gente!
Rosário
de Nossa Senhora/ nos socorrei.
Serpente
é mãe que mata a vida/ Agnos’dei.
Em
mitos e crenças antigas
Aborto/
maldição/ ferida
Senhora
das Dores/ afasta esta maldita
Dos
lares/ de vida.
Credo,
Cruz!
Lá
vem a Serpente
Cabeça
de luz
Devorar
toda a gente!
POTYRA
– Há quem afirme que, o encanto só termina quando a serpente encontrar sua mãe
e mamar no seio dela.
LUÍS
– Pela Provisão Régia de 21 de julho de 1870, Lei Provincial nº 919, a Vila de
Itapecuru-Mirim, foi elevada à categoria de cidade, sendo criado o Município do
mesmo nome com extensão territorial de 2.612,50 Km².
POTY - Itapecuru Mirim era uma vila decadente de
ruas estreitas e casarões de taipas sem estética urbanística, quando da
elevação a cidade. Modernizada por Tiago Bernardo Matos, em 1942, criando um aspecto modernista, com planejamento. Criou o
projeto urbanístico com amplas avenidas arborizadas, construindo praças com
jardins e canteiros. Fez o alargamento e alinhamento das ruas e avenidas.
Deu personalidade à prefeitura
Municipal, dando-lhe um prédio próprio adequado ao seu funcionamento. Assim
dando início à construção do imponente e belo edifício onde hoje é o Palácio Municipal, um patrimônio que deveria ser tombado e preservado na sua íntegra.
─ Pois bem, Contamos a
Lenda da Serpente,
uma
das mais antigas de nossa cidade.
Agora, quem quiser que invente,
ou
conte outra...
Outra
Lenda pra gente!
Sem
revelar a nossa idade.
FIM
Aumenta
o volume musical
Fecham-se
as cortinas.
Todo e elenco e produção dirigem-se para frente
da cortina e saúda mais uma vez o público.
Assinar:
Postagens (Atom)