segunda-feira, 20 de julho de 2020

Itapecuru Mirim, Maranhão. O sesquicentenário na Pandemia




Itapecuru Mirim, Maranhão
O sesquicentenário na Pandemia
Assenção Pessoa




Resto da construção do antigo cais da rampa Wady Fiquene

Antigas tribos que vilas povoam
vem o homem branco adentram e roubam
a alma ingênua do caboclo crioulo.
Os contos e lendas à noite amedrontam
as moças donzelas
com seus cabelos de fios de ouro.
E assim viram história.
Eterna memória.
Da negra mulata que rompe barreiras.
É dança, é jogo, é cidade, é fogo...
É Itapecuru Mirim, cidade ribeira.

Como não lembrar que somos um povo de histórias e culturas miscigenadas no passado e compiladas nesse presente de amarga Pandemia! Porém, somos um povo guerreiro, ávido e com herança genética de força e poder. Força, para superar limites; poder, para embasar nossas lutas e vitórias sempre que somos testados. E, com toda intensidade desejamos nos livrar logo desse inimigo, o COVID-19, para que num futuro bem próximo possa ser apenas uma triste e saudosa lembrança dos entes queridos que perdemos e da demonstração dessa força e desse poder na avidez e na superação dos nossos obstáculos.
Hoje, quero discorrer sobre o passado glorioso que em transe, voltamos um pouco mais, quando da chegada dos portugueses ao Brasil em 1500 e da existência dos grandes proprietários, por direito, desta terra tão explorada e tão amada, que são os indígenas das mais diversas tribos da nação. No Maranhão eis que surge a chegada dos primeiros povos portugueses, os açorianos, ainda por volta de 1612, quando muitos deles se espalharam por toda a ribeira do Itapecuru, o rio de promessas de vida farta, por suas entranhas nas matas, por seus riachos, igarapés, nascentes que propicia o cultivo da lavoura e a criação de animais domesticados. Registra-me na minha memória, das aulas de História que por volta de 1622, os primeiros movimentos para o surgimento de vilas e arraiais por estas redondezas, foi o grandioso projeto de construção de engenhos para moer cana-de-açúcar. Antemão, falando especificamente dessa região onde hoje é a cidade de Itapecuru Mirim, em que a fixação dos açorianos portugueses não foram bem-vindos aos olhos dos Tapuias Urutis, que viviam no Morro do Diogo e outras tribos espalhadas por toda região do Itapecuru, mata adentro. Assim, os portugueses na tentativa de escravizá-los ou dominá-los criou uma situação de conflitos constantes, dificultando e até mesmo tornando impossível a convivência, ocasionaram na consequente redução, até a dizimação dos índios por completo. No entanto, coube a nós herdarmos um pouco da sua cultura como o cultivo da terra, o hábito de se alimentar com batatas, fazer chás, rezas e outras beberagens pra curar o corpo e o espírito.
Apesar de pouco se conhecer dessa cultura açoriana em Itapecuru Mirim, pois os traços hoje praticamente inexistem, ainda podemos contar com a tradição das casas de farinha, nos moldes dos engenhos desse povo, os costumes, a culinária, as crenças, os bailados, as lendas, os ritos, o jeito de falar e a alma alegre incorporada à nossa cultura, como, por exemplo, as Festas do Divino Espírito Santo.
“Quem canta, seus males espantam”, nossas raízes fragmentadas na herança do Brasil e do Maranhão. Após a luta pela terra, em 1649, surgem os primeiros indícios de uma colonização, com os novos ocupantes formando um vilarejo, num processo lento, onde os colonos se localizaram numa parte das terras que eles a denominaram de “Arraial”, e, mais tarde, “Feira”, há 01 quilômetro do rio Itapecuru.
Acometidos pela epidemia de Varíola que assolava o Maranhão (1788), começava outra luta, a luta pela vida para os moradores da Feira. E em 1789, mais uma derrota, período em que uma grande enchente no rio Itapecuru atingiu uma extensão de 12 quilômetros, expulsando os moradores e destruindo habitações. Fatos que atrasaram ainda mais o progresso da localidade “Feira” e que amargou por 12 anos até a criação da “Freguesia do Itapecuru”, sob a invocação de Nossa Senhora das Dores. E, somente 14 de junho de 1871 é que sai o Decreto para a criação da tão sonhada “Vila de Itapecuru Mirim”, o que ocorreu em 20 de outubro de 1818, sob o auspício do Alcaide-Mor José Gonçalves da Silva, ficando nesta data o reconhecimento oficial da “Vila” e do seu desmembramento da cidade de São Luís e que teve seu apogeu de 1818 a 1880. E como consequência do crescimento da “Vila”, a caracterização do município que se deu em 21 de julho de 1870, com sua elevação a cidade e território, sendo criado o município do mesmo nome, Itapecuru Mirim.
Itapecuru Mirim que já teve seu rio chamado de “Jardim do Maranhão que outrora vivera”, em razão da colonização portuguesa, como toda a província do Maranhão tem na Igreja Católica Apostólica Romana, ponto mais relevante, na sua formação histórica, social e religiosa. A Capela Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi o primeiro marco ainda na formação da Freguesia, hoje Nossa Senhora das Dores cuja sede atual teve sua pedra fundamental lançada em 1841, quando da passagem do Coronel Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias pela então Vila de Itapecuru Mirim.
Embora Itapecuru tenha uma rica história existe apenas uma única data a ser comemorada, 21 de julho, que é seu “status de cidade”, ficando inúmeras outras tão importantes para o município, como, por exemplo, sua emancipação política no ato da criação da Vila, 20 de outubro, este ano de 2020, completando 202 anos. Ainda num grande empreendimento para o Brasil, pode-se citar o ato da Junta Governativa Provisória constituída em Itapecuru Mirim, a cidade rebelde, em declarar adesão à Independência do Brasil somente em 20 de julho de 1823, uma semana após o Maranhão aderir. A Batalha do Jenipapo (1823) quando Itapecuru foi rendido e pedido à reintegração de posse da Vila por Salvador Cardoso de Oliveira, chefe geral dos independentes. O grande nome nessa parte da história de Itapecuru Mirim foi o tenente-coronel José Felix Pereira de Burgos, o Barão de Itapecuru Mirim, por seus serviços prestados pela causa da Independência do Brasil.
Itapecuru Mirim ainda se vê envolvida, enredada, ao se render por pequenas guerrilhas e conflitos como a Guerra dos Três Bês (1823), cujo objetivo era defender a hegemonia política do Maranhão, e a Setembrada (1831), um movimento da província de Maranhão em que Itapecuru Mirim teve importante participação, cuja reivindicação era a expulsão dos oficiais portugueses e a demissão de todos os funcionários que não fossem brasileiros do quadro da Fazenda e da Justiça do Maranhão, ambos, movimentos pós-independência.
E o que dizer da Balaiada (1838 - 1840) em Itapecuru Mirim? Um dos maiores conflitos ocorrido no Brasil, com o Maranhão sendo palco de Insurreição, e que acabou por envolver uma cidade pacata num emaranhado de lutas populares em consequência da grave crise econômica causada pela queda do algodão, o aumento da miséria e o abuso dos poderes em detrimento dos menos favorecidos, negros e pobres. Foi em Itapecuru Mirim, que o cearense Cosme Bento das Chagas, o Negro Cosme se incorporou à Balaiada e lutou junto com os Balaios, e quando da rendição dos mesmos, ao ser capturado, ficou preso na Cadeira Pública e foi enforcado em 29 de setembro de 1842, como o criminoso mais bárbaro desta guerra, na Praça do Pelourinho (construído em 1818), onde hoje é a Praça do Mercado.
Desde a colonização do Maranhão, suas lutas e suas vitórias, há um pedacinho dessa Itapecuru Mirim, uma cidade com quase 70 mil habitantes, há 112 Km da capital São Luís. Décima oitava maior cidade do Estado, o valor de sua história, hoje de grandeza sesquicentenária, esta terra tão precisa, tão altiva, tem um povo que lhe confere grandeza e tamanha beleza merecendo o reconhecimento do Brasil e do Maranhão conferindo-lhe menções e honrarias de agradecimento aos itapecuruenses por sua valiosa contribuição na formação histórica desse País e desse Estado.
Do fascínio do teu rio, herdamos a tua fonte de vida, o teu povo, os imortais destemidos, a riqueza em memória como o Matemático Joaquim Gomes de Sousa. Aqui se tem o ideal da literatura, referências aos nossos estudantes e pesquisadores. Como exemplo, podemos citar o Jornalista João Francisco Lisboa, o poeta Juvenal Nascimento Araújo, o médico escritor Henrique Leal, a escritora e professora Mariana Gonçalves da Luz, o professor João da Cruz Silveira.
Seus talentos discorrem pela história, pela literatura, pela política e religiosidade, pelo folclore e pela cultura, pelas artes e pela ciência. São os filhos de Itapecuru Mirim, maranhenses brasileiros que nos enchem de orgulho. Ainda registro o professor Leonel Amorim, o Cônego Albino Campos, Luiz Gonzaga Bandeira de Melo, Benedito Bráulio Mendes, Manfredo Viana, Zuzu Nahuz e os novos representantes como os Pesquisadores Tiago Oliveira e Jucey Santana, os escritores Samira Fonseca, Inaldo Lisboa, os Jornalistas Benedito Bogéa Buzar, Gonçalo Amador Nonato, Brenno Bezerra, Alberto Junior e Alfredo Menezes, o protagonista do esporte amador das rádios e jornais de São Luís, Maranhão e que foi vencido pelo COVID-19 aos 72 anos, no último dia 27 de abril de 2020, deixando um importante legado aos maranhenses do esporte e da vida.
Na música, nos referencia os maestros, Joaquim Araújo, Sebastião Pinto, Gonçalves Martins, Álvaro Nascimento, José Bandeira, e os contemporâneos, José Santana, Carlos Magno Silva, além dos imortais que já estão nos registros da história e as promessas de novos talentos na musicalidade itapecuruense.
A esta terra a qual me refiro carregada de tantas expressões, encontramos no seio da cultura popular Maria Sampaio, Josivaldo Rodrigues (JR), mestre Bertulino Campos, Moaciene Monteiro, nas artes, os artistas plásticos Beto Diniz, Alex Muniz, Ailson Lopes, Vaguinho e tantos outros.
Na ciência e na medicina, o doutor Tarcísio Mota Coelho merece especial destaque, um ser humano inconfundível, pois nunca esquece sua gente. Lembramos também de Curtius Carneiro e Fernando Wellington Costa.
Como não nos lembrarmos do Desembargador Públio Bandeira de Melo, itapecuruense que teve importante contribuição ao Judiciário do Maranhão.
Recordo-me de dois grandes nomes do perfil político de Itapecuru, Bernardo Thiago de Matos e João da Silva Rodrigues.
Carrego minhas homenagens a Itapecuru Mirim de seus ilustres anônimos, trabalhadores e trabalhadoras que fazem a roda da economia girar, o povo cantar e o pão na mesa nunca faltar. A essa Itapecuru Mirim de 150 anos apenas de cidade e 202 anos de emancipação política, sem contar seus anos primórdios. Rendo-me ainda às quebradeiras de coco, os carroceiros, pescadores, lavradores, artesãos, muitos que estão na informalidade e muitos itapecuruenses que apaixonados como eu, vão driblar e vencer a assombrosa pandemia do Novo Coronavírus, o COVID-19 que assola o país com quase dois milhões de casos e mais de setenta e cinco mil mortos, mas que também nos fez retomar modos de ouvir, de sentir, de ver e rever nossos conceitos e comportamentos em relação a nós mesmo e ao outro.

Cidade tropical, onde é sol o ano inteiro, de relevo modesto, onde os ventos que sopram seus cocais trazem alívio ao calor e o frescor da brisa que sobre a influência do mar, afronta o rio abaixo nos proporcionando prazer, elegância e frescor. Frescor que também vem da sua Lua Cheia que irradia a noite dos que ainda apreciam a beleza natural, ao se debruçar sobre a luz do luar nas águas de teu rio, o rio Itapecuru, em esplendor a bailar, ou no botão de uma flor a despertar. Parabéns Itapecuru Mirim por seu tricinquentenário!



Exaltando minha cidade

Oh! Minha cidade, este recanto bendito!
Tens poesia, tens história
um rio de vitórias, festivas memórias,
tens encantos na tua alegria!

Sesquicentenária, seus antepassados
lembranças e lutas que não tem idade.
Hoje eu só quero te enaltecer
e dizer o quanto me orgulho de ti.

Quero ouvir teus pássaros, tambores divinos
a perambular entoando sonhos,
evocar teus santos, mistérios e lendas
mergulhar no rio, lembrar teu passado.

Quero senti a brisa, à noite ao luar.
Casais enamorados, beijos a roubar.
Não existe igual Itapecuru
Itapecuru Mirim, não existe igual.

 

Referências:

Pessoa, Maria da Assenção Lopes. Itapecuru Mirim, sua gente, sua história. Ed Nelpa, São Paulo-SP. 2015.
Santana, Jucey. Itapecuruenses Notáveis. Gráfica 360°, São Luís, MA. 2016.




Maria da Assenção Lopes Pessoa.
Itapecuruense, Professora Licenciada em Ciências com especialização em Biologia, e em Gestão, Supervisão e Planejamento Educacional. Escritora, poeta, pesquisadora, membro fundadora da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes – AICLA, membro efetivo da Sociedade de Cultura Latina do Estado do Maranhão - SCLMA. 














Um comentário:

  1. What is the best casino to gamble? - Dr.CMC
    › › Casino › Casino Find the best casino online. Play games, gamble, and 공주 출장샵 win real money in the palm 구미 출장안마 of your hand. No matter 창원 출장샵 what kind of game you're playing, you'll find yourself 서귀포 출장마사지 in 경주 출장마사지 one of

    ResponderExcluir