quinta-feira, 4 de março de 2021

Resenhas femininas: que essas mulheres têm em comum?

 

        Resenhas Femininas: o que essas mulheres têm em comum?

    Edição Especial 08 de março - Dia Internacional da Mulher

    O texto dialoga sobre Filomena Suzana Lopes, Conceição de Maria Viana de Menezes e Maria Mesquita Pessoa buscando os pontos convergentes entre elas.


Filomena Suzana Lopes (11/08./1912 - 24/07/1996).


Filomena Suzana Lopes  

         84 anos vividos. De sua infância e de sua juventude não tenho propriedade para falar, mas da mulher branca, estatura mediana, adulta, mãe, avó, bisavó, essa sim, dessa mulher tenho algo para dizer. Era filha única de família abastarda, a família Matos. Analfabeta, por que a vida não lhe deu oportunidades para estudar, no entanto, foi uma grande mulher de negócios, microempresária e uma exemplar dona de casa. Casada com paraibano Luís Lopes de Mendonça, que veio para trabalhar na Estrada de Ferro São Luís-Teresina, Filomena era mãe biológica de Benedita Susana Lopes de Araújo e Tereza Suzana Lopes Baldez. Foi avó e mãe adotiva de Antônio Ferreira Lopes, Tusca que era neto legítimo apenas de seu Luís Lopes. Dona Filomena como era conhecida, morou no Bairro Trizidela, ao lado da estação de trem, Itapecuru Mirim/MA. Acolheu em sua casa a sua nora Maria da Paz quando essa se separou do Tusca, e sua filha, a bisneta Assenção, que todos a chamavam de Concinha. Maria da Paz tinha tratamento de Filha. Sempre bem disposta contribuiu com o esposo na renda financeira da família e na educação dos filhos. Com um pequeno restaurante, servia refeições aos trabalhadores da Rede Ferroviária Federal que tinham parada obrigatória na estação de trem, dar plantões ou passar a semana no exercício da sua função hospedado na própria estação. Também atendia aos viajantes dos trens que passavam todos os dias pela Trizidela. Sua residência era sempre muito bem frequentada e as pessoas se tornavam amigas da família, pois dona Filomena sempre tinha um prato de comida aos pobres e necessitados, era uma criatura bondosa.  Filomena Suzana criou e educou suas filhas e seu bisneto de forma correta, humilde, mas com muita sabedoria. Era rigorosa por que a educação familiar da época exigia rigor e disciplina para educar os filhos. Dona Filomena aprendeu ainda muito jovem a quebrar com machado o coco babaçu, cuidar de roça e plantações de verduras apenas para o consumo de sua cozinha. Socava o arroz no pilão, debulhava o feijão, era uma cozinheira de mão cheia, uma exímia boleira. Uma mulher decidida, forte apesar da aparência frágil. Filomena era símbolo de vigor, da luta diária por dias melhores, era uma batalhadora. Filomena Suzana era uma mulher de fibra. Tinha o pleno domínio dos números e das contas, ninguém a enganava. mesmo sem ser contadora, dona Filomena era extraordinária na contabilidade dos negócios da família. Pois além do restaurante, o casal tinha um comércio de secos e molhados ao lado da residência e também negociavam carnes bovinas, suínas, galináceos e bodes. Tinham uma vida bem dinâmica nos negócios. Minha bisavó paterna da qual tenho orgulho em dizer, era uma pessoa extraordinária. Gostava de contar estórias de animais para mim (o engraçado é que eram sempre as mesmas estórias, mas eu gostava de ouvi-las). Samena, como eu a chamava, era uma mulher decidida, nunca se deixou abater pelo desânimo, era uma pessoa distinta e respeitada pelos moradores e visitantes do bairro. Era uma itapecuruense guerreira!



Conceição de Maria Viana de Menezes (26.06/1915 - 07/01/2003) 


   Conceição de Maria Viana de Menezes 

        88 anos vividos. Mulher negra de olhos claros, estatura baixa, dona Concita como todas a chamavam, tinha uma personalidade forte. Filha de Manfredo Viana e Adalgisa Nogueira Viana. Vinha de um família de sete irmãos: Robispierre, Expedito, Maria José, Ribamar, Aurino e Donatila. Ainda jovem, foi levada para São Luís/MA para estudar Enfermagem, um curso promissor na época. Concita se formou enfermeira para agradar seus pais, mas o que ela gostava mesmo era de dar aulas. Acabou sendo professora. Casada com Alfredo Menezes, jovem cearense com profissão de carpinteiro, marceneiro e músico, com o qual teve sete filhos: Maria da Paz Nhazinha, Consuelo, Socorro, Alfredo Filho, Ribamar, Irisdalva e Valda. A vida de casada foi cheia de desfechos, ora bons momentos, ora, maus, mas Concita foi vencendo os desafios um a um. Tendo que mudar-se com certa frequência para vários povoados de Itapecuru Mirim, para acompanhar o marido e ao mesmo tempo driblar a falta de dinheiro, dona Concita fez de tudo um pouco, trabalhou na lavoura, criação de animais domésticos, foi parteira e professora. A família Menezes ainda foi morar num lugarejo chamado Livramento, município de Peritoró, depois Sítio Novo do Grajaú e Cantanhede, até retornar novamente para Itapecuru Mirim. Exerceu a profissão de professora no período de 1951 a 1956 nos povoados Jundiaí (Itapiracó),  Filipa e Caixa D'água. Após tantos recomeços, Conceição de Maria decide separa-se de seu Alfredo já com os filhos todos adultos, e ele vai morar em São Luís/Ma. Ela permanece ainda por um tempo em Itapecuru Mirim, mas acaba indo morar também em São Luís com os filhos Socorro e Alfredinho que já  trabalhavam. Foi um período bem difícil, morando num bairro sem infraestrutura, dona Concita teve que segurar mais essa barra para da suporte aos filhos. Não podia demonstrar fraqueza. Nunca demonstrou! Sempre foi uma mãe presente, nos momentos alegres e tristes, nas horas difíceis e nos sucessos. Sempre deu apoio aos filhos e aos netos que procuravam sua residência para morar, estudar e trabalhar. Anos depois, os filhos puderam lhe ofertar uma boa moradia no Bairro da Liberdade, de onde só saiu quando partiu para a morada do Pai celestial. Mãedindinha como nós, netos, a chamávamos era uma pessoa educada, gostava de brincar de bonecas, ainda lembro dela fazendo roupinhas de bonecas, gostava de fazer trabalhos artesanais com as sobras de tecidos, tipo lençóis, colchas, cortinas, toalhas de mesa usando taco, tiras ou cochichos. Também usava o tempo para fazer palavras cruzadas. Ainda em Itapecuru Mirim lembro de Mãdindinha lendo estórias par mim, de reis, rainhas, fadas, bruxas, estórias dos Irmãos Grimm. Nossa avó foi uma vencedora. Nossa avó foi uma mulher guerreira, não teve medo, foi forte, consciente da sua força feminina. A itapecuruense Conceição de Maria foi símbolo de resistência.




Maria Mesquita Pessoa (09/02/1924 - 13/04/2016)


Maria Mesquita Pessoa 

92 anos vividos. Vargem-grandense, a bela morena de estatura mediana, Maria Mesquita conheceu e casou-se com o piauiense Leonidas Rodolfo Pessoa. Morando em Pirapemas o casal passou por muitos momentos difíceis. Leonidas era marchante e negociante de gado bovino. Dona Maria, uma mulher do lar, alfabetizada e muito querida por todos. Aos poucos a renda da família foi melhorando, dona Maria cuidava basicamente da educação dos filhos e da casa. Sempre com muita disciplina procurou educar os filhos José, Antônio, Edmar, Edmilson, Miguel, Antônia, Leonidas, Raimundo e Edvan. Era muito rígida quando se tratava  da escola e do caráter de cada filho. Não admitia desobediência e nem desavenças entre os irmãos. Maria Mesquita foi a esposa, a mãe, a pessoa que contribuía com o crescimento popular de seu esposo, o Leondão. Pois ao entrar para a política, chegou ser vereador na pequena Pirapemas, mas também a perder algumas campanhas eleitorais para prefeito. Numa delas tiveram que ir morar no povoado Forquilha e lá dona Maria juntamente com os filhos tiveram que viver da criação de animais domésticos, do extrativismo do babaçu e da roça de toco.  Foi aí que se revelou a mulher forte, aguerrida que enquanto seu esposo estava em viagem no comércio do gado, ela cuidava dos negócios do lar. Com seu empenho, Maria fazia valer cada etapa vencida enquanto esteve no interior de Pirapemas vivendo de forma humilde, mas sem perder a ternura. Sempre ao lado do marido, e com a vida financeira novamente estável, voltaram a morar no centro urbano de Pirapemas, em seguida mudando-se para Itapecuru Mirim, MA, onde tiveram êxito nos negócios. Os filhos tiveram a oportunidade de concluir os estudos em Itapecuru e na capital São Luís. Novamente, Leondão foi levado pelo desejo político de ser prefeito, desta vez eleito (1983 - 1988), voltaram a residir em Pirapemas. Maria Mesquita foi a primeira Dama mais simples e popular que o município já teve. Sem ambições ela ajudou o marido a ser o melhor prefeito na história de Pirapemas. Maria Mesquita Pessoa uma mulher guerreira, batalhadora e sábia. Sua casa era bem frequentada, a mesa das refeições tinha sempre muitas pessoas à sua volta. Todos que procuravam abrigo e alimento na sua residência eram sempre bem atendidos. Dona Maria cuidava das pessoas como se fossem de sua família. Como mãe, avó e sogra foi um exemplo, um coquetel de resiliência, coragem, autocontrole e lealdade. Mesmo sem saber, essa mulher teve uma inteligência emocional e uma capacidade incrível de conviver com o diferente amando e respeitando o próximo sempre.


        O que essas mulheres têm em comum? 

        O ponto positivo em comum que une essas três mulheres, Filomena Suzana, Conceição de Maria e Maria Mesquita, foi que ao enfrentar uma sociedade patriarcal, machista com paciência, coragem e sensibilidade, elas conquistaram o respeito e a admiração de toda a família, amigos e sociedade onde moraram rompendo limites e se realizando naquilo que sabiam fazer com maestria: ser mãe tomando conta dos filhos; ser dona do Lar, administrando ou realizando as tarefas da casa; serem boas esposas, sendo compreensivas e companheiras; serem trabalhadoras do lar ou autônomas, lidando com as adversidades que surgiam ao longo suas trajetórias de vidas. A capacidade de superar o insuperável, de vencer o invencível por que essas mulheres independentes da sua posição social, do seu grau de instrução ou da sua raça, essas mulheres foram MULHERES GUERREIRAS superando barreiras e deixando um exemplo a ser seguido.

        Que nesse dia 08 de março de 2021 possamos refletir sobre as grandes mulheres que fizeram história nos movimentos, mas principalmente sobre as mulheres anônimas que fizeram da sua história, uma história de vida na simplicidade e no amor incondicional. Gratidão pela existência dessas três mulheres na minha vida. Filomena Suzana e Conceição de Maria, minhas avós, e Maria Mesquita, minha sogra, uma segunda mãe.

Itapecuru Mirim, MA. 08 de março de 2021.

Maria da Assenção Lopes Pessoa


REGISTROS DE MOMENTOS EM FAMÍLIA:


Filomena Suzana com  filhos e parentes (1980) 

Dona Concita com netos e bisnetos (1984)


Dona Concita com os filhos Alfredo, Socorro, Ribamar
e Vania (nora) (2000)
 



Maria Mesquita com filhos e netos (2005)



Maria Mesquita com filhos, Leonidas, Antônio, Edmar, Edvan, Edmilson,
Antônia (sentada) e Maria (em pé, filha adotiva) (2005)








Assenção Pessoa, Itapecuruense, professora, Bióloga, Esp. em Gestão, Supervisão e Planejamento Educacional. Escritora, poeta, membro da Academia Itapecuruense de Ciências, Letras e Artes - AICLA e da Sociedade Cultura Latina do Maranhão - SCLMA, e membro correspondente da Academia Vargem-grandense de Letras e Artes - AVLA.



4 comentários:

  1. Parabéns minha comadre, lindas e merecidas homenagens à essas grandes guerreiras.

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  2. Conheci a tia Filomena. Minha mãe Risena Matos da Silva era prima dela. Lembro da casa ao lado da estação, do Sr Luiz Lopes, marido dela. Lembro também dos filhos vagamente.
    Parabéns Assenção por resgatar essas heroínas anônimas.

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