sexta-feira, 12 de junho de 2015

A LITERATURA ITAPECURUENSE EM FOCO




I CICLO LITERÁRIO DO CESITA – CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE ITAPECURU MIRIM - DE 08 A 11/06/2015


            SOBRE AS OBRAS INFANTOJUVENIL - A princesa Sarah e o Sapo e José e as Três Mosqueteiras DE AUTORIA DA Prof.ª ASSENÇÃO PESSOA  - Uma análise sob o ponto de vista da autora. ( A CONVERSA na íntegra)



Com a Palavra: Professora Assenção Pessoa

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão.
Eles não têm pouso nem porto; alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias, no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti...

Mário Quintana

O poeta Mário Quintana, brincando com o exercício de fazer poesia, auxilia a discussão de alguns pressupostos relevantes quanto à apropriação da leitura literária: a ideia de que os poemas são territórios livres, representam espaços que se tornam familiares para os leitores. São, pois, campos seguros, acolhedores e, ao mesmo tempo, não constantes para quem os lê.         Essa fugacidade que permite múltiplas interpretações provoca, também, a inquietação necessária à leitura das entrelinhas. (Eu penso o mesmo para os demais textos literários escritos para crianças e adolescentes).


Ainda sobre O letramento literário

Quem ama os livros, deseja possuí-los. Quem os possui, acaba por amá-los.
                                                                                       Richard Bamberger

Compreender o texto para além de sua significação imediata, quer dizer, estabelecer relações, formar contextos e, por fim, permitir que a experiência de vida seja trazida ao discurso. O alcance desse nível de leitura está mais próximo do que chamamos de letramento, que significa justamente ir além do processo de alfabetização. Assim, da mesma forma, que cada indivíduo pode ter em si o processo de alfabetização e de letramento brilhantemente construídos por um texto, também pode apresentar, em semelhante situação, a capacidade de proporcionar a esse mesmo leitor a sensação de prazer (que causa contentamento, que vem da cultura, que cria uma prática confortável de leitura) e/ou de fruição (que causa confronto, crise, exige limite).

A literatura infantil e juvenil é, por essência, a porta de entrada ao mundo da leitura e da literatura, e por meio desse letramento literário, cuja compreensão, considera-se seja a essência mais apurada para uma leitura prazerosa. O acesso a esses livros, garante ao futuro leitor uma experiência que conduz a um processo crítico de leitura em níveis elevados, lhes oportunizando, uma integração com mundo elitizado da língua, aqueles que dominam um dos mais complexos processos psicolinguísticos requeridos em nosso cotidiano. Compreender como se dá este processo de iniciação à leitura e à literatura, por meio da aproximação e exploração do universo literário infantil e juvenil, é fator determinante para a formação de leitores adultos. É Ancorada em estudos que consideram a leitura como um processo complexo, que envolve muito mais do que a decodificação dos signos linguísticos, é que devemos refletir, questionar e debater sobre o papel da escola e do professor, da família e dos pais, neste processo de formação do leitor. O papel do escritor é provocar e aguçar esses processos por meios de seus textos.

            (É baseado neste princípio que procurei ver as especificidades da ficção infanto-juvenil, enfocando principalmente o plano da fantasia, que se abre a parti da inserção de objetos da natureza e da magia do recriar. Procurei inserir nas entrelinhas, dentro das minhas narrativas, questões ideológicas e com algumas representações de gênero. Sob esse aspecto, tento construir uma escrita dinâmica dentro das diferentes esferas da realização artística e literária).

Sob o selo da Editora Nelpa, escrevi Recordações, que são poemas, na maioria com versos livres. Sob o selo da Editora Gregory, estão A princesa Sarah e o Sapo e José e as Três Mosqueteiras. Todos registrados na Biblioteca Nacional e na Câmara Nacional do Livro, com catalogação na fonte do Sindicato Nacional dos Editores de Livros.
           
São obras de ficção, didáticas, e destinadas ao publico infantil. Circunscrevem-se num mesmo espaço básico, a Natureza, e delimitam um núcleo de personagens (os familiares). Há uma dinâmica para possibilitar o reconhecimento e aceitação por esses leitores em formação. Nas capas dos dois livros, se mostra personagens crianças, em traços que objetivam reproduzir um modelo real.

No miolo do livro José e as Três Mosqueteiras, apresenta como espaço onde ocorrem os episódios, um sítio no interior de uma pequena cidade, onde seus habitantes ainda vivem rodeados de sossego e alegria, sem os avanços tecnológicos e a vida agitada dos grandes centros.

            Os papéis são definidos, embora o espaço do sítio permita a concepção de um mundo menos delimitado, abrindo fronteiras de atuação, sejam de gênero, ou de idade, ou, por uma nova organização, em defesa dos animais. Abre um leque para uma reinterpretação da estrutura familiar convencional, já que a família representada na narrativa, a mãe não aparece, mas tem seu espaço ocupado pela avó.

O texto simples, revela nas entrelinhas o papel da mulher organizacional neste sítio, uma vez que cabe a avó, a tarefa de ordenar harmoniosamente a família, e o vovô Leo de se ocupar das tarefas “ditas” masculinas, hierarquicamente falando. As crianças enredam-se pelo que aprenderam sobre consciência ecológica e faz desse momento de férias uma aventura pelas pequenas matas do sítio no qual seu avô mantém uma estrutura sustentável (também subtendido nas entrelinhas). O livro trata de forma sucinta, sobre a caça predatória dos animais e animais mantidos em cativeiros. O professor pode abordar vários temas ecológicos (ambientais) dentro desse enredo, questionar valores e organização familiar.

Muito parecido, o livro A Princesa Sarah e o Sapo, também tem uma estrutura ligada à família e a Natureza. A história traz um enredo de amizade, de amor pela belo e questões de valores e escolhas. Pedagogicamente podem ser trabalhadas as questões ambientais de preservação e sobre a vida dos anfíbios, bem como, explorar outras classes de animais (Ciências), numa linguagem infantil e juvenil, a estrutura familiar em diversos países, questões de gênero, formação, escolhas profissionais e casamento (Filosofia, Sociologia, História e Geografia).

IMAGINAR É INTERAIR COM O MUNDO INTERNO E EXTERNO

“A imaginação da criança é a ponte que liga este mundo externo e o interno. Contos de fadas, lendas aventuras, povoam o imaginário dessas crianças tornando-as mais criativas”.

Pensando nessa interação, ambos os livros tem um enredo movimentado explorado no plano imaginário, as obras propiciam a construção e reconstrução de personagens vindos de outras obras consagradas, ancorada em artifícios descritivos, ora na construção de personagens, representativos da infância, ora na apresentação de elementos com uma abertura para a fantasia. O encantamento, o poder de sedução, movem as narrativas, amparadas pela perspectiva da criança. As transformações são para serem apreciadas como produtos do desejo das crianças.

            A fantasia é o que protege o material (externo) do inconsciente (interno). É importante ressaltar que não existe tensão entre fantasia e realidade, pois as personagens passam de um a outro plano suavemente, por intermédio de intervenções propiciadas por objetos (personagens, situações) da ficção. O humor, a comicidade e a leveza dominam a cena, e revelam a potência da subjetividade (opinião pessoal), que permite “o fazer acontecer”.

(Outra marca que se encontra na produção para crianças, em meus livros, creio eu, é o aparecimento entre as narrativas do resgate de valores e episódios que põem à prova as escolhas éticas, evidenciada ao longo dos textos. Nas duas obras, predomina a ideia de harmonia e calma, que deve imperar no convívio entre nações, homens, mulheres e família).

            É inegável que, na ficção a palavra certeira é o enredo dinâmico que agradem às crianças. (repito) A trama dos livros é formada por pequenos acontecimentos, pontos trabalhados em que o plano da realidade abre-se para o do imaginário, seja ele representado por um sapo que vira príncipe, ou por um grupo de crianças que se consideram salvadora dos animais do sítio. Em todas as situações, predomina o respeito pelo humano e nas duas obras percebem-se elementos formadores da noção de família, amor à Natureza e emotividade na criança.

Os livros exploram a produção de diálogos das crianças com os adultos. Permite também, despertar nas crianças a curiosidade intelectual e uma atitude crítica face à vida.
           
A literatura infanto-juvenil é destinada especialmente às crianças entre dois a 12/13 anos de idade. O conteúdo dessas obras precisa ser de fácil entendimento pela criança que a lê, seja por si mesma, ou com a ajuda de uma pessoa mais velha. Além disso, precisa ser interessante e, acima de tudo, estimular a criança. Os primeiros livros direcionados as crianças foram feitos por professores e pedagogos no final do século XVII, com o objetivo de passar valores e criar hábitos.
Atualmente a literatura infantil não tem só este objetivo. Hoje também é usada para propiciar uma nova visão da realidade, diversão, lazer e prazer.

            (Porém eu digo que não existe discurso ou texto inocente, que não remeta a ideologias). E, na literatura infantil e juvenil, o texto advém quase sempre de uma superposição parcial (um entrosamento de um sobre o outro) que remete à socialização, à educação, e traz, muitas vezes, noções de escolhas, gênero e etnia dentre muitos outros temas sociais existentes.

Na Wikipédia, enciclopédia livre diz que, “Enquanto muitos jovens têm certo repúdio aos clássicos da literatura, alguns livros mais atuais, dedicados a adolescentes, se tornaram grandes best-sellers mundiais, como Harry Potter, Percy Jackson & os Olimpianos e Jogos Vorazes. Esse fenômeno, no entanto, pode ser visto como uma boa oportunidade de incentivar o gosto pela literatura nesta faixa etária. No Brasil, o mais importante escritor infantil foi Monteiro Lobato. Dentre suas obras, destacam-se o Sítio do Pica-pau-Amarelo, Reinações de Narizinho, Ideias do Jeca Tatu. Além dele, também podemos destacar Ziraldo, com O menino maluquinho”. Mas nós temos ainda, Cecilia Meireles (Ou isto ou aquilo), Irmãos Grimn (Branca de Neve), Carlo Collodi (Pinóquio), Lewis Carroll (Alice no país das maravilhas)... (...)

Concluindo, esses dois livros fazem parte da COLEÇÃO A ARTE DE SER AVÓ, a magia dos sonhos de princesas e pequenos heróis dentro do universo do “ser avó”. Um trabalho pioneiro para nós, os escritores deste município, que é, realizar por meio do mundo infantil, uma literatura enfatizando questões ambientais, éticas, sociais e pedagógicas. Os livros foram escritos para meus netos: Amalia, Guilherme, Laiza e Sarah e por deles fazer chegar a todas as crianças. Pois eles me inspiram e me impulsiona a ousar.
           
Para quem usa estas histórias como roteiro pedagógico, irá encontrar nesses dois livros, um espaço surpreendente e inesperado para novas descobertas. A literatura infantil é fundamental para que crianças travem contato com os livros desde cedo, acostumando-se com sua textura, seu formato, seu cheiro e seu universo de possibilidades. “Os livros já não me pertencem mais, uma vez publicados, eles pertencem aos leitores, e somente o tempo me dirá o real valor destas obras para as crianças, os adolescentes, jovens e adultos que tiverem a curiosidade de abri-los, devora-los e apreciá-los”.

“Quem lê transcende o tempo e se permite uma viagem de prazer indescritível, tendo em vista que a leitura é uma experiência pessoal ímpar.”
    “O mais difícil, mesmo, é a arte de desler’”. (Mário Quintana)

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